quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Verão de 2012; o que há de ser feito.

"Faz muito tempo que eu não venho escrever aqui. Nâo tenho como saber exatamente quanto, porque não tenho anotado as datas das últimas vezes que escrevi. As únicas datas que tenho ficam na memória, e um dia vão todas elas por água abaixo, para que eu só me lembre do que importa, e não das datas. Para que eu só use como referencia para me orientar no tempo alguma apresentação, algum show, ou um dia no calendário que marque o inicio do verão."
"Porque acontece que mais uma vez, afinal de contas é ele. Que sempre me desafia com a luz intensa e me queima, porque eu ainda sou uma criança. É o verão, que me abafa com o calor e me faz perceber mais umas vez que eu estou vivo. Que traz as boas lembranças que me motivam a continuar e, ao mesmo tempo me machucam com a saudade que deixaram. Mas que sempre me faz perceber algo de bom ou de ruim, que faça eu me encontrar ou que me faça entender que ainda é preciso eu me perder um pouco mais."
"Porque desde o último verão que eu cometi o meu último ato de bravura, que eu tenho tentado me guiar através dele desde então.  Que eu passei o resto do ano e o ano seguinte tentando continuar a negar a mim mesmo como eu percebi que tinha que fazer. Desafiar o destino, nadar contra a maré. Encarar de frente e tentar não mostrar medo que sentia. Mas eu percebi que o meu último ato de bravura foi, de fato o meu último ato de bravura, e que o resto do tempo todo eu passei fugindo daquilo que mais me apavorava e me fazia trintar os dentes: o medo. Só para então esperar passar mais um ano e perceber que a coragem que eu tinha que ter era justamente pra me render à ele. Para perceber que na verdade o tempo que eu passei correndo na verdade foi fugindo, esse tempo todo, por uma avenida cujo nome eu prefiro nem mencionar."
"Porque de um jeito ou de outro acontece que é assim. E eu preciso que os raios fortes de luz me batam na minha cama todo dia pra me lembrar disso. Me lembrar que mais uma vez o sol está me chamando, e que dessa vez o desafio agora é outro, bem mais difícil e que requer muito mais coragem. Porque agora o desafio não é mais negar a mim mesmo. Não é só jogar toda a fantasia, hipocrisia e sonhos no lixo e aprender a viver sem eles. Agora o desafio não é encarar o medo de ser quem eu não era. Não. Agora o desafio é outro, e que Deus me proteja do que vem a seguir. Porque agora o desafio é ser feliz. Agora o desafio é deixar isso que eu já sei e já entendi pra trás e mergulhar no desconhecido. Sair desse mundo de letras e quebra-cabeças sem fim e encarar o quebra-cabeças real que está aí fora. Porque eu já passei tempo demais neste aqui, e a vida não volta. Não te espera. Não demora. E porque eu já estou cansado, e com fome, e com saudade de casa. E isso é tudo o que eu quero agora. É estar de volta para as estrelas, e deixar todo esse mar pra trás. Porque eu posso ser um marinheiro, mas a minha casa é em terra firme. E lá tem uma lareira e um cantinho quentinho onde se possa contar histórias, e onde eu possa contar histórias de todos os sete mares pelos quais eu passei, e que talvez eu ainda volte a passar. Porque eu sei que nada é definitivo, e sempre pode ser nescessário partir de novo. Mas sempre será nescessário voltar também. Para lá. Para onde eu enrolei tanto e até agora não disse. É estar de volta em casa. É estar de volta no meu lar."

Por Lucas Gesteira
18/12/2012

domingo, 9 de dezembro de 2012

Faz muito tempo que eu não venho aqui. Muito tempo que não venho tentar escrever sobre nada, nem tentar explicar nada pra ninguém, porque eu percebi que simplesmente não sei o que eu quero explicar. Não sei resumir tudo o que aconteceu, nem fazer uma conclusão de texto dissertativo pra servir de exemplo pra ninguém. Por isso que não tenho escrito. Porque eu simplesmente não sei sobre o que escrever.
Em vez disso tenho tentado deixar tudo mais claro pra mim mesmo. Tenho caído de um abismo muito alto, e não sei ainda quando chegará definitivamente o chão. Tenho caído como nínguem sabe o quanto eu tenho medo de altura. Até sair das altas latitudes e do ar rarefeito e cruzar o nível do mar e ficar sem respirar. E então mergulhado, só pra ver o quão fundo eu ainda consigo chegar. Até que ponto dos 9,46Km de profundidade que o mar tem eu consigo alcançar. Até quando eu consigo suportar tudo isso, pra que eu finalmente desista e peça ajuda. Pra que eu chame alguém que possa me confortar num abraço. Pra que eu admita que eu não aguento mais, e que eu estou cansado, e com fome, e com frio. Pra que eu me force a abandonar isso tudo e submergir de volta, pra o único lugar que esse tempo todo eu quis estar. Pra que possa finalmente voltar pra casa.
Por isso que nos últimos tempos eu não tenho escrito. Porque eu tenho estado ocupado demais tentando chegar ao fundo de mim mesmo - ao centro - pra que eu possa encontrar a resposta que eu tenho procurado exaustivamente por tanto tempo e que sempre esteve na minha frente o tempo todo: de que afinal de contas eu sou apenas um homem. Que eu encontrei coisas lindas na vida, mas que eu estive perto de jogar tudo fora, porque nisso eu não queria acreditar. Porque a medida que eu submergia, eu deixava pedaços de mim agregados à superficie, porque com eles não daria para afundar. E fui me deixando, e fui me perdendo, mais e mais, até aonde fosse possível suportar, na vil esperança de que um dia tudo fosse valer a pena.
E eu não sei ainda aonde estou. Não sei se estou perto do fim, não sei se está perto de tudo acabar. Mas chega um momento em que você se dá conta de para onde está indo, e sabe que se seguir por ali nunca mais vai voltar. Chega um momento em que você percebe a direção em que está indo, e que você que escolhe se vai seguir por ali ou virar as costas e continuar por outro lugar. Como numa alucinação, você tem que ir se guiando para escolher aonde vai. E eu tenho virado as costas para todos os lados. Tenho feito minhas próprias escolhas de por onde eu quero seguir. Algumas em especial, mas todas muito difíceis. Todas se tornam muito assustadoras quando você percebe que tem a opção de ir por ali. De continuar caindo naquela direção. De continuar preso num quebra-cabeças que não tem fim.
E eu não sei realmente por que caminho eu quero seguir. Não sei pra qual lado que eu vou me jogar. Só sei aqueles que eu não vou, definitivamente, seguir. Só sei o que estou deixando atrás das minhas costas, mas não tenho a menor ideia do que vou encontrar pela frente, e tudo que me cabe é esperar. Não como quem espera o tempo, mas como quem tem esperança de que vá parar num lugar bom. Como quem tem esperança que tanta dúvida e incerteza se encontrem e se anulem, me levando ao único lugar que eu durante tanto tempo tenho pensado, e tentado ir. Para uma casa que não é feita de barro ou concreto, mas de tijolos. De tijolos que eu espero, ainda esperem por mim como eu esperei por mim mesmo durante tanto tempo. Porque este é o único lugar que eu desejo estar, depois de tanto tempo, depois de tanto mar. Em casa. O único lugar em que eu desejo estar.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Eu juro. Você não precisa acreditar em mim, mas eu juro que estou fazendo o meu melhor. Estou indo o mais longe que posso ir dentro de mim mesmo - o mais fundo - mas sem tentar perder a esperança. Eu juro, juro que nada foi em vão. Mais pra mim do que pra você. A questão é que eu tenho finalmente chegado no fundo disso tudo, a 9.46Km de profundidade, e visto o quão ainda falta descer. Você não precisa acreditar. Só leia isso, e veja o quão eu estou tentando. Só leia isso e saiba que eu não vou mais embora. Só leia isso, e não entenda, e não pense a respeito. Porque por mais que seja infantil, tudo o que eu quero é isso. Por favor. Só leia.

- Eu tenho feito algumas escolhas ruins, mas vou me redimir hoje, tio.


Me desculpa.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Efémero

Eu sinto o tempo inteiro uma angustia que não termina. Sinto o tempo inteiro como se houvesse algo a fazer, trabalho a ser feito, alguma coisa que pudesse me tirar daqui, ou deixar tudo menos pior. Eu sinto o tempo inteiro um impulso muito forte de voltar aqui sempre. De escrever sobre tudo e todos os furacões que passam na minha cabeça, na esperança de que isso vá tirar eles daqui ou pelo menos deixar registrado, para que não tenha sido em vão. Para que não tenha sido efémero e não vá ser esquecido, como eu tenho tanto medo de que seja. Tenho medo de que tudo o que eu passei, no instante em que eu siga em frente fique pra trás, seja esquecido e levado junto com a correnteza. Tenho medo de que eu vá me esquecer de tudo o que eu passei, e mais tarde tenha que reviver de novo pra lembrar.
Ao mesmo tempo, eu sinto como se a coisa que eu mais me orgulhasse de ter feito nesses últimos tempos todos fosse justamente isso. O registro que eu tenho deixado encadernado e que digito em tinta preta. Que eu deixo guardado o tempo inteiro, e que escrevo de vez em quando. Porque eu sinto que é esse o legado que esse meu último ano inteiro deixou para me lembrar. Porque sou inteiramente eu, e as páginas são tão confusas e sem nexo quanto eu nesses últimos tempos. Porque eu estou há muito tempo confuso e sem nexo, e ter algo que me traduz me deixa no mínimo um pouco mais compreendido, mesmo que quem me compreenda (ou não) seja, afinal de contas, eu mesmo.
Mas eu tenho resistido à tentação. Porque eu sei que não vai adiantar nem vai me redimir em nada, e porque eu sei que só vale a pena escrever sobre o que for quando for sincero, e quando for sincera a vontade de escrever. Tenho tentado colocar pra fora tudo o que eu sinto de outras formas, mesmo que essas eu saiba que são fracas, e que correm o risco de serem esquecidas ao longo do tempo.  Porque a mente humana é fraca e esquece, mas às vezes as coisas não são feitas realmente para serem lembradas. Por que nem tudo dá pra guardar num potinho e levar consigo pelo resto da vida. Ás vezes é melhor que as deixemos no lugar onde surgiram, e seguir em frente mesmo assim.
E eu senti, no último dia ensolarado que teve essa certeza. Que não importa o que aconteceu depois, nem se tudo o que houve foi documentado e expresso. Porque seguimos todos numa única fileira de encontro ao mesmo destino, e o que já aconteceu vai ficar pra sempre. Mesmo que as promessas sejam quebradas, mesmo que as expectativas desçam ralo abaixo. Qualquer coisa que aconteceu vai ficar pra sempre, e se a mente humana é fraca demais pra lembrar, estará registrado pra sempre no universo. Nas estrelas. No destino do que já passou mas se repete ainda assim. Porque é eterno e é efémero, e é algo que é impossível de ser mudado. E no meio de todos os meus furacões, essa é uma das poucas coisas que eu consigo ter certeza, porque eu senti. Porque a vida é como uma barra de download em movimento uniforme, e nada disso é em vão.
Mesmo que eu ainda não esteja pronto para acreditar plenamente nisso.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Desabafo Nº 2

Eu posso dizer que estou muito confuso, e que não sei o que vim escrever aqui. Posso fugir, e deixar pra uma outra hora. Posso deixar pra tentar explicar o que eu sinto quando passar e eu já estiver com as idéias claras na cabeça. Mas eu sei que quando passar não vai significar a mesma coisa que significa agora. Não vai demonstrar a minha depressão ou a confusão que eu sinto, porque eu não estaria mais nela. Não vai dizer o que eu sinto com a intensidade que eu sinto agora, nem vai ser mais sincero, mesmo que eu consiga explicar direito depois.
E é por isso que eu estou escrevendo aqui. Porque eu não quero deixar pra depois. Porque eu cansei de fugir, e mesmo sabendo que eu não vou conseguir vencer, qualquer coisa é melhor do que isso. É o que eu tenho tentado ao máximo. Parar de fugir, como eu sei que eu sempre faço. Como eu sei que eu sempre fiz quando as coisas se complicavam. Ir embora. Passar para o outro lado. Morrer. Pra depois acreditar que renasci, e que o mundo vai ser outro comigo por causa disso. Mas agora não existe pra onde fugir. Não existe lado para o qual eu possa atravessar. Não existe nenhum véu escuro nem um trem no qual eu possa embarcar. Existe apenas eu, e o que eu conseguir manter para mim, e que quiser ficar.
É o que eu tenho tentado, juro. É lindo de se falar, poético, discreto, e eu quase consigo acreditar que fui eu que escrevi. Mas a verdade é que não é. A verdade é que não chego nem perto de nenhuma dessas coisas, porque simplesmente não consigo parar. Não consigo parar de esperar demais de mim mesmo, e de me decepcionar comigo mesmo a cada dia que passa. Não consigo parar de esperar que agora eu vá dar conta de tudo, que agora eu sei o que devo fazer, que agora é o momento em que tudo irá fazer sentido, que agora é a hora em que eu irei finalmente voltar.
Voltar. É tudo o que eu queria. Voltar, como eu havia prometido. Como eu esperava. Como eu acreditava que não levaria tanto tempo, e que no final iria ficar tudo bem mais uma vez, pra sempre. Mas a verdade é que eu simplesmente sei que eu não posso. Porque todo esse tempo eu simplesmente embarquei numa viagem, e não existe caminho de volta. Porque eu saí em busca das respostas que há tanto tempo me angustiam, e perdi a hora de quando fosse o suficiente. E tudo o que eu penso é nisso. Tudo o que eu penso é em como eu queria estar em qualquer lugar que não fosse aqui. Estar perto de todos vocês, e poder rir descontraído das mesmas coisas, e que tudo estivesse bem de novo. Não como antes. Não vivo mais de memórias. Não sou um velho, mas só um jovem que deixa de viver a própria juventude.
E o medo maior que eu tenho é esse. É que, por eu ter me isolado e me excluído, que eu perca a única coisa que eu realmente conquistei por mérito próprio e que vale a pena na minha vida. Meu maior medo é perder vocês. É perder o que apareceu pra mim feito um presente num dia ensolarado, e que me tirou de todo o isolamento e tristeza que eu revivo agora. Meu maior medo é que eu tenha me distanciado tanto, que uma hora tenha deixado de fazer falta. É ter me tornado um fantasma, e não poder nem ao menos dar susto em ninguém. E é por isso que eu sofro. É por isso que eu não consigo deixar o rio fluir. Porque eu tenho medo de que vocês sejam levados no meio da correnteza, e me deixem só. Porque eu sei que tudo com o tempo passa, mas arrependimento é algo que fica pra sempre. E esse é o maior arrependimento que eu poderia ter. É o maior pesadelo que eu dia eu posso sonhar. Porque tantas foram as pessoas que já passaram pela minha vida, e vocês são a única casa de tijolos que eu sinto que eu construí, e que eu sou fraco demais para poder sustentar.
E eu passo os dias tentando me convencer de que não. De que sou forte, e sou capaz de consertar tudo. De que consigo dar conta do que esperam de mim, e acima de tudo, do que eu espero de mim. E por isso que tudo o que eu consigo fazer agora é me desculpar. Me desculpo com o meu caderno, com o meu dever de Física, com o meu piano e com a foto que eu tenho no meu quarto. Me desculpo porque é a única forma que tenho encontrado de admitir a maior verdade pra mim mesmo. De que eu simplesmente não sou a pessoa que eu queria ser. Não sou o bom aluno que eu queria me tornar. Não sou o musico que eu sonhei em ser. Não sou o artista que imaginei ser. Sou apenas um homem, e é isso que o mundo tem feito questão de me mostrar. Me reduzido, a ponto de ver o quão pequeno eu realmente sou. Não um ser humano especial, nem um tipo de gênio ou algo assim. Não alguém que chegou ao seu final feliz, nem que encontrou uma resposta especial. Apenas um homem, e só.

domingo, 9 de setembro de 2012

Stuck on the Puzzle

Não sei como começar a escrever aqui, mais uma vez. Em parte porque não sei bem ao certo o que eu quero dizer, em parte porque quero dizer coisas demais, e são todas muito confusas pra que eu possa achar um jeito de explicar elas, até pra mim mesmo. Confusão. Ironicamente talvez seja essa a palavra que melhor explique tudo o que eu tenho pra dizer. Tudo o que eu tenho passado, e que permanece eternamente auto-contido na minha cabeça. E que eu sei que não vai ser agora que eu vou conseguir colocar pra fora. Que eu sei que não vai sair em parágrafos bem organizados e limpos, e que seriam bons de se ler. Mas o que eu quero dizer em si também não é realmente bom de se ler.
Todos os últimos meses eu tenho passado inteiramente auto-contido na minha cabeça. Como se eu tivesse sentado comigo mesmo e decidido resolver todos os empecilhos que atrapalhavam o andar da carruagem. Como se eu tivesse simplesmente me isolado para tentar me entender melhor e me tornar finalmente quem eu sempre quis ser. E é algo que não sai de mim. É algo que há aproximadamente um ano não sai de mim. Eu vivo, eu bebo, eu danço. Eu vou para as festas que gosto e saio com os amigos que amo. Mas quase nunca descanso. Porque eu simplesmente não consigo descansar enquanto eu não entender o que quer que tenha para ser entendido. Eu sinto como se houvesse algo extraordinário, pouco além do alcance dos meus dedos, e que se eu conseguisse me esticar só mais um pouco poderia agarrar. Como que se eu conseguisse a proeza de me tornar elástico por meio segundo, conseguiria, e não haveria mais nada com o que me preocupar. Como o orgasmo que estivesse a um instante de satisfação, e que se você chegasse um pouco mais fundo daria pra sentir. Como a Resposta Final para A Questão Fundamental sobre A Vida, O Universo e Tudo Mais. Como o final feliz de uma trama que já não faz nem mais sentido, mas que explicaria tudo e faria você sair do cinema como quem nunca viu um filme igual.
Mas acontece que eu infelizmente não sou feito de borracha. Acontece que por mais que eu me esforce, o meu braço não é longo o suficiente para alcançar, e eu acabo tendo que recolhe-lo por não mais aguentar mante-lo esticado na mesma posição. Como a impotência fatídica que interrompe o orgasmo. Como se a Resposta Final para A Questão fundamental fosse meramente 42, e não desse satisfação nenhuma pra nada.  Como se o filme travasse perto do final da trama, e todos saíssem do cinema dizendo que desperdiçaram oito reais num filme péssimo, e que nem o final puderam ver. E eu, lanterninha, tentasse trazê-los de volta, enquanto passam por mim sem nem perceber que eu estou ali. Sem nem saber que é a minha história que eles acabaram de assistir, e se soubessem, provavelmente voltariam pra chutar a minha bunda.
Porque o que acontece é que eu estive esse tempo todo numa viagem que durou mais do que era pra durar, porque eu me perdi no meio do caminho e não tenho a menor ideia de pra que lado que eu devo seguir, e já nem me lembro mais do caminho de volta também. E porque não há volta. Porque se houve uma Menina-Que-Se-Botou-Pra-Fora, eu fui o que se colocou pra dentro. Que virou arquipélago, e que passou a viver num conjunto de ilhas habitadas pelos diversos "eu's". Porque todo esse tempo - todo esse maldito tempo -  eu tenho procurado só uma chave pra abrir a minha cabeça, e nada mais. Só uma chave metafórica que fosse a resposta para toda a minha angústia de existir. A verdade por si só, sem vir acompanhada de fingimento nem mentira alguma. O pedaço do espelho em que eu me visse e me reconhecesse, e soubesse que era aquele, e só. Que me completasse e me tirasse daqui pra qualquer lugar em que eu não tenha mais que me preocupar.  A peça do quebra cabeça que é impossível de encaixar, e que te ilude o tempo inteiro achando que é aquela a resposta. Só pra depois perceber que não é. Só pra depois se desiludir e sair de novo procurando sem rumo. Sem direção específica, perdido. Apenas preso no quebra-cabeça.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Piada

Rido. É a única coisa que eu tenho feito. Ou pelo menos que eu posso fazer. Rio de mim mesmo, e de tudo á minha volta. Rio da minha incerteza, da minha insegurança. Rio da desgraça que acomete os outros. Rio da desgraça que acomete à mim. Rio da vida e rio da morte. Rio da confusão que se passa dentro da minha cabeça, e de como ela é engraçada por si só. É impressionante o quanto pode ser engraçada a tristeza. O quanto pode ser engraçado o pesar. O quanto pode ser engraçado o meu não saber o que dizer, nem como continuar.
É tudo que eu sinto que sou capaz de fazer. Tenho tido oscilações de humor, e rio disso. Tenho tido dias bons e dias ruins. Nos bons não me preocupo. Nos ruins rio. Rio porque é simplesmente, absolutamente, extremamente tão engraçado! Rio porque eu estou absolutamente em desespero, e isso é tão ridicularmente engraçado! Rio porque eu simplesmente não sei mais o que fazer, e é tão engraçado tudo! Rio porque estou em cacos, e simplesmente não sei como me juntar de novo. Rio porque é a única forma que eu consigo de encarar a verdade de frente, e não voltar a mentir pra mi mesmo de novo. Porque eu simplesmente não aguento mais. Porque eu sinto que minha cabeça está a ponto de explodir numa gargalhada infame, que vai durar pra sempre e vai, finalmente, sintetizar tudo aquilo que eu estou entalado há tanto tempo pra dizer. Que vai ser sincera. Que não vai ser boa nem má. Que vai ser sarcástica como o mundo merece que ela seja. Porque ele é simplesmente uma grande piada, e o melhor que temos a fazer é rir dela, pra sempre e sem se preocupar.
Entretanto, eu sei que não consigo. Porque apesar de tudo, a minha risada é seca, e me dá sede continuar a rir assim. Porque eu sei que afinal de contas eu não estou louco, mesmo que quem me veja na rua rindo pense isso. Porque eu sei que sou incapaz de atingir o orgasmo cômico. Porque eu apenas não cheguei ainda no fundo do poço. Não cheguei ainda no fundo do abismo que demorei tanto tempo pra me jogar. Tenho rido na queda, mas o mais engraçado mesmo é o medo que eu ainda tenho de chegar no fundo. O mais engraçado é o medo que eu tenho de ter que subir de volta tudo de novo, só pra depois perceber que eu na verdade ainda estou caindo, e só não tinha percebido. É a apreensão que eu sinto simplesmente pela ideia de continuar a existir. De continuar a estar nessa constante depressão, que por tão raros momentos deixa que eu seja realmente feliz. E que quando deixa, me faz sentir culpado, porque eu sei que não mereço. Porque eu sei que eu falhei comigo mesmo e com o mundo ao meu redor. Sei que falhei, e sei que mais uma vez estou falhando comigo mesmo por me culpar por todas essas coisas. Talvez seja isso que se resuma na verdade todos os últimos tempos. Uma falha. Uma grande falha que não faz sentido ter existido. Que eu passei meses tentando argumentar comigo mesmo e tentando consertá-la, mas não tem como consertar o que não faz sentido. Então se não tenho como consertar, a única coisa que eu posso fazer é rir.
E por isso eu não consigo parar de rir. Ando na rua, e rio das minhas lembranças. Rio da miséria que a minha cidade está. Rio da mãe pobre com duas crianças no colo, e sei que sou nojento por causa disso. Rio da minha própria nojeira. Rio da minha ridícula revolta adolescente, e do quanto eu simplesmente não sei o que fazer. Rio do meu não saber pra onde ir. Rio de todas as expectativas que se quebraram na minha frente, e da minha personalidade que se quebrou junto com ela. Rio do quão confuso e perdido eu estou, e rio ainda mais quando me lembro que eu esperava que agora eu tivesse encontrado a paz. Rio da ideia de final feliz que eu deveria estar vivendo, e rio quando me pego pensando novamente numa outra pra viver depois. Rio da esperança. Rio da ideia que algum dia as coisas vão melhorar, e toda a minha confusão desaparecer. Rio do quão besta e bizarro pode ser eu estar escrevendo tudo isso, e querendo que as pessoas leiam só para que saibam que eu não estou bem. Rio da falta de poesia que tem nisso tudo, e de como eu abdiquei à ela para vomitar essas palavras aqui. Rio pensando o quão desanimador deve ser ler tudo isso o que tem aqui, e ainda mais do quão isso tudo é a realidade. E como eu queria que não fosse. Como eu queria só rir despreocupado e relaxar, com uma piada banal e infame, que não fosse a minha vida.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Carta de Desculpas

Desculpa. A única coisa que eu consigo repetir e sussurrar no meu travesseiro é isso. Desculpa a você, e a todos vocês. Desculpa se fui mal na última prova de Ciências Humanas, e desculpa se eu sei que eu também vou mal na de Matemática amanhã, e mesmo assim estou aqui escrevendo isso. Desculpa por ser tão fraco. Desculpa por não ter conseguido cumprir às minhas próprias expectativas. Desculpa por não ser quem eu sempre quis ser. Desculpa por não ter conseguido colocar o final feliz que eu sempre quis colocar nisso tudo. E desculpa por passar tanto tempo tentando, e mesmo assim chegar aqui e não ter conseguido. Desculpa por ser tão confuso, e se a minha confusão me impediu de fazer o que eu precisava. Desculpa se fui covarde, se não consegui ver. Desculpa se não tive a sacada genial que eu precisava pra sair dessa. Se não consegui cumprir com a minha ideia mais genial, ou fazê-la sair do papel. Desculpa por estar tão distante, e não conseguir de jeito nenhum voltar, porque é tudo o que eu quero, é tudo o que há muito tempo eu quero. Desculpa se eu fui covarde, se eu não consegui nem admitir nem mesmo o medo que eu tenho tanto. Desculpa por ter tanto medo o tempo inteiro, e desculpa por não ser capaz de fazer nada. Desculpa por estar tendo que vomitar essas palavras aqui, pra qualquer pessoa ler e ficar sem entender, mas é só que eu estou tão desesperado e somente não tem ninguém pra me amparar aqui, agora. Desculpa por querer afinal que vejam isso, e desculpa por não ter coragem o suficiente pra falar na cara. Desculpa se eu não consegui fazer a filmagem direito. Se o ângulo não estava bom, se a minha atuação deixou a desejar. Desculpa se eu não consegui, afinal entender o que todo esse tempo você tentou me dizer. Desculpa por não ter entendido nem mesmo o que eu tentei me dizer. Desculpa por ter fingido, e ter mentido tantas vezes pra mim mesmo, e falar com os outros acreditando que eu sabia o que estava fazendo. Desculpa se nada aconteceu do jeito que você esperava, ou do jeito que eu esperava. Desculpa se eu não toco piano bem, e se eu não passo tempo treinando pra isso. Desculpa se eu não estudo, e se ainda assim filei duas aulas hoje de manhã. Desculpa se vocês pagam caro, e eu não dou valor. Desculpa se eu não sei o que fazer com a flor que brotou no meu quarto. Desculpa se eu não sei sobre política o suficiente pra poder votar bem. Desculpa se eu fiz tudo errado, mas eu tenho tentado muito fazer o que é certo. E eu sei que tudo o que eu preciso é ter a certeza de que todos vocês estão aqui comigo. E me desculpem se eu do nada não consigo mais ter essa certeza toda. Desculpem se eu não estive aqui para vocês esse tempo todo, mas é só que eu simplesmente tentei tanto!
Desculpa por não saber o que dizer, e por ter entalado na garganta tanta coisa. Desculpa se não consegui fazer um texto que fosse bom de ler, e que dissesse com mais precisão tudo isso que eu sinto. Desculpa. Desculpa à todos vocês. E principalmente, desculpa à mim.

domingo, 12 de agosto de 2012

O Abismo, A Caverna e A Verdade

Me sinto confuso, mas de uma forma diferente da qual estou acostumado. Sinto não como se simplesmente não entendesse mais nada mas como se, de súbito, tudo o que eu achava que havia para se entender não existisse mais. Ou como se existisse, mas estivesse distante de mim agora, e eu simplesmente não preciso me preocupar. Sinto como se um grande peso tivesse sido tirado da minha cabeça, e agora eu simplesmente não soubesse como reagir à ausência dele. Não como se eu sentisse falta. Como se houvesse um vácuo que eu simplesmente não sei como ocupar, e não sinto uma necessidade disso agora. Como se eu simplesmente não soubesse, e parasse a frase por ai. Não sei. Não sei o que sentir, então não me coloco a responsabilidade de tentar sentir nada. Não sei o que esperar, então não espero nada. Não sei o que fazer, então trato de pôr a comida no prato do cachorro e fazer o que der na telha no meu resto de sábado à noite. Na verdade, sinto que sei de muita pouca coisa nesse momento, e portanto não me coloco a responsabilidade de tentar saber nada mais do que eu de fato sei.
Sei que alguma coisa quebrou dentro de mim. Sei que vejo meu reflexo nos cacos do espelho, e não os entendo. E não tenho a menor ideia se não entendê-los agora é só uma etapa para entendê-los depois, e também não me importo com isso agora. Sei que eu pulei de um abismo, e que não sinto como se já tivesse atingido o chão. Me sinto estático à queda, e com o olhar perdido pela janela do ônibus que pego pra voltar pra casa às terças. Sinto como se eu afundasse cada vez mais e, apesar disso, não me aproximasse do chão, e nem temesse o momento em que este fosse chegar. Não por coragem. Não por bravura. Simplesmente por saber que não há motivo para temer quando este vier. E sei também que não entendo ainda o que significa a ideia que o chão sou eu que determino. Simplesmente sigo, em vertiginosa queda rumo ao chão que eu não sei quando virá.
Sei que o que eu vi era a verdade, e que continuo até agora observando-a e vendo as minhas expectativas caírem por terra diante dela, sem me importar. Sei que o que eu vejo agora é a liberdade, e que não sei o que fazer com ela. Porque eu estive e ainda estou numa caverna. Numa cela de prisão. E os meus olhos se acostumaram de tal forma com a escuridão que eu quase esqueci como era a luz. Mas aconteceu que a porta simplesmente se abriu. As sombras pararam de dançar. Me deram as chaves, e não havia ninguém do lado de fora para me impedir. Eu ainda estou dentro, mas a porta está aberta, e ainda me parece estranha a perspectiva de sair. Porque afinal de contas eu não sei o que existe lá fora, e eu também não sei o que espero que exista do lado de lá. Não sei se espero que seja a verdade mais uma vez. Não sei se espero que seja uma outra espécie de prisão. E eu sei que ainda não estou pronto pra sair para averiguar. Sei que ainda preciso de tempo pra os meus olhos se acostumarem à luz, e sei que ainda preciso permanecer seguro na escuridão da minha caverna.
E apesar disso, sei que estou certo. Sei que sigo agora o meu próprio caminho, e não tenho pressa pra isso. Porque eu sei que não acabou. Porque um lírio murchou e eu o guardei bem guardado onde ele vai durar pra sempre. E porque depois nasceu outro em outro lugar, só meu. Só pra mim. E porque mesmo que também seja efêmero, sei que ainda assim é pra sempre. Porque nada morre. Porque nada nunca acaba definitivamente. Porque a vida é cíclica, e das terras do meu jardim nascerá outro, e nascerão milhares. E porque contrariando todas as expectativas, acabou que não foi esse o final. Que não foi esse o último capítulo de um livro, nem a última cena de um filme qualquer. Acabou que não foi esse o final do texto, nem o final feliz que eu tanto esperava. E sim um ponto de continuação.

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(Continuação)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Carole King - You've got a friend




When you're down and troubled
And you need a helping hand
And nothing, ooh, nothing is going right.
Close your eyes and think of me
And soon I will be there
To brighten up even your darkest nights.
You just call out my name,
And you know wherever I am
I'll come running, oh yeah baby
To see you again.
Winter, spring, summer or fall,
All you have to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah
You've got a friend.
If the sky above you
Should turn dark and full of clouds
And that old north wind should begin to blow
Keep your head together and call my name out loud
And soon I will be knocking upon your door.
You just call out my name,
And you know where ever I am
I'll come running to see you again.
Winter, spring, summer or fall,
All you go to do is call
And I'll be there, yeah, yeah, yeah
Hey, ain't it good to know that you've got a friend?
People can be so cold.
They'll hurt you and desert you.
Well they'll take your soul if you let them.
Oh yeah, but don't you let them.
You just call out my name,
And you know wherever I am
I'll come running to see you again.
Oh babe, don't you know that,
Winter, spring, summer or fall,
Hey now, all you've go to do is call.
Lord, I'll be there, yes Iwill.
You've got a friend.
You've got a friend.
Ain't it good to know you've got a friend.
Ain't it good to know you've got a friend.
You've got a friend.

sábado, 9 de junho de 2012

Lírios

Acho que mais uma vez, eu posso dizer que amadureci. Porque o verão foi intenso, e o sol estava forte lá fora. Porque dessa vez a realidade bateu com força, e porque demora também algum tempo pra que a gente aprenda a revidar. Chega o momento em que não tem como fugir, não tem como se esconder, não tem como continuar mentindo pra si mesmo, e em que é necessário lutar para sobreviver. Chega o momento em que simplesmente não cabe mais ser criança. Em que simplesmente é hora de crescer, e encarar toda a miséria que tem na nossa frente, e que não dá mais pra desviar mais o olhar e negar que eu também faço parte dela. Em que é necessário encarar toda a sujeira, hipocrisia e maldade que existe dentro de você, e deixar que ela simplesmente tome conta de você. Porque é uma parte que não dá pra renegar de si próprio. Que não dá expulsar nem repelir. Porque simplesmente é você. E não há nada que se possa fazer quanto à isso.
E tudo pra isso, de um jeito ou de outro sempre acaba se mostrando no Verão. Expondo os meus pontos fracos, me deixando lento e vulnerável á qualquer um, e principalmente de mim. É o momento em que se expõe toda a minha confusão, toda a minha fraqueza, e a minha incapacidade de lidar com os meus próprios problemas. O momento em que eu costumava sempre me esconder e deixar o sol bater em mim. Inerte à minha própria vontade, com medo dos meus próprios punhos, dos próprios pensamentos que eu não queria ter de pensar, só esperando e rezando para que passasse. Até que viesse uma chuva refrescar meus dias.
Mas dessa vez eu fiz com que fosse diferente. Dessa vez eu lutei. Contra os demônios na minha própria cabeça e comigo mesmo. Caminhei no lado selvagem, como o Lou Reed diria, e mais do que isso: corri por ele. Não como quem anseia por chegar ao fim, mas como quem não teme velocidade do vento que bate à testa. Ou como quem teme, e tem coragem ainda assim de enfrentá-lo da mesma forma. E esse é o meu maior mérito que eu consegui conquistar nos últimos tempos. Coragem. Para lidar com os meus maiores medos. Para lidar com o desconhecido, e a incerteza que o tempo me trouxe. Para lutar contra a correria incansável que eu nunca pedi, e contra a corrente que eu nunca fui a favor. Coragem para lutar com todos á minha volta, e o mais difícil: Coragem para lutar comigo mesmo.
O verão nunca queimou tão forte, e eu tenho certeza de que foi só o inicio. Porque agora eu sei do desafio que eu tenho á minha frente, e sei o qual imensamente mais difícil vai ser encarar ele. Porque por mais que eu tenha tomado essa luta para mim, a verdade é que eu à roubei mesmo de outra pessoa. Porque eu estava muito acostumado á viver na minha própria cúpula, onde tudo era perfeito, e acabei me esquecendo da crueldade que existe aí fora. Acabei me esquecendo de como as ruas de Salvador são vermelhas, e de quão sangrenta a realidade pode ser. E acabou que quem me lembrou disso foi uma velha amiga. Tão velha quanto o tempo pode se lembrar, e mais corajosa do que qualquer um que eu consiga me lembrar. Foi nas palavras dela que eu vi novamente isso, e foi graças a ela que eu consegui entender toda essa confusão que havia dentro das minhas certezas. Foi dali que eu tirei a minha força, que só estava escondida nos dedos, esse tempo todo. A essa amiga agora eu tenho que agradecer, de todo o coração. Porque se hoje eu estou escrevendo isso, é graças á você, assim como foi graças a você também que há pouco mais de um ano atrás eu pude escrever o que escrevi, e te mandar junto com flores, e um cartão postal.
Só que acontece que chegou a hora em que isso só não se tornou o bastante. Chegou o momento em que eu tenho que criar novamente as minhas próprias asas, e encontrar novamente o meu próprio caminho. Abraçar a minha própria luta, e vencê-la eu mesmo. E tirar dessa vez força das minhas próprias palavras, da minha própria voz e, sobretudo, dos meus atos. Seja pra me perder, seja pra me encontrar. Eu sei que agora eu preciso abrir a minha própria trilha, e que eu preciso fazer isso sozinho. Do meu próprio jeito, e sem seguir os passos de ninguém.
Eu sei que daqui pra frente tudo vai ser diferente. Sei que mais uma vez tudo vai mudar, e eu estou pronto para isso. Porque afinal de contas, o verão acabou. E mesmo que isso não signifique que é hora de parar de lutar, porque nunca é hora disso, no mínimo prova que agora vai ser diferente. Porque agora eu entendi o que vinha me faltando esse tempo todo. Que eu passei tanto tempo me preocupando com a realidade que por mais que um segundo eu me esqueci. Que é verde e tem pernas que nem gafanhoto, e que salta fora se a gente não souber como carregar: Esperança.
Porque em cada chuva, em cada orvalho eu consigo sentir. Porque é substancial na atmosfera, e ainda mais dentro de nós mesmos. Que é púrpura e a gente não vê, mas está ali, e nós sabemos disso. Porque a gente pode se perder, quantas vezes que sejam, mas não podemos nunca perder a esperança, como eu quase perdi. E é necessário, mais uma vez, coragem para mantê-la acesa em tempos tão difíceis. E é necessária força para mante-la viva apesar de tudo, e olhar pra frente e ver tudo de ruim que existe por ai, e ainda assim, num cantinho isolado, encontrar um motivo pra sorrir. Encontrar um motivo pelo qual continuar a lutar, e pelo qual continuar a viver. Encontrar um romance pelo qual ainda se possa sonhar, ou os amigos que sonha em ver novamente. É isso, afinal. É o amor, e toda a sua circunspectância que só ele tem. É a flor de Guernica. É o nascimento no meio de uma guerra. É uma flor no meio do nada. E principalmente, são Lírios numa caixa de sapatos.
E mesmo que eu tenha deixado essa caixa nas mãos de outro alguém esse tempo inteiro, com tudo de mais valioso que eu já tive na vida, e uma mensagem que eu fiz de tudo para que não fosse nunca esquecida, eu não posso nunca esquecer da mensagem que chegou de volta. Que eu não guardo no meu piano, nem em caixa alguma ou em lugar algum, mas dentro de mim mesmo. Que flui nas minhas veias e me dá novamente força para encarar o desafio que eu tenho agora na minha frente. Sem fraquejar. Sem demonstrar medo. Porque a verdade é que ás vezes a maior coragem que nós temos que ter, é para ter esperança. Para ver o bem e o mal de perto, e andar no meio deles. Sem tropeçar, sem escorregar. Sem esquecer do que nos trouxe até aqui, nem de tudo o que a partir de agora temos que enfrentar. Porque a partir de agora é que eu sigo novamente com o meu próprio caminho, e endireito a minha trilha para fazer a curva. Para seguir, e ajustar a luneta para o horizonte. Para o mar. Para as luzes da cidade que ainda não consigo enxergar daqui. Para o lugar que mais me fez falta, durante todo esse tempo, e que eu ainda não estou preparado para voltar. Mas que estarei, e que quando voltar, vou fazer com que as más línguas se calem, mesmo sendo uma delas minha também. Vou fazer com que se veja que o amor de verdade existe, sim, e não há nada que se possa fazer quanto à isso. Porque está dentro de nós. Porque vive em nossa circulação sanguínea, e nos mantém vivos, e com força para lutar. Vou fazer com que se veja que ainda há esperança, que ainda há felicidade, e amor debaixo do travesseiro. Mas acima de tudo, vou fazer com que se veja que ainda há flores por perto. E que ninguém pode tirá-las daqui, e que ninguém é capaz de feri-las. Porque são belas, e porque são meus. E acima de tudo, porque são Lírios.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ozônio e água da chuva.

"E então ele acordou. Olhou o espaço ao dele e observou cuidadosamente o cenário. Sentiu o ar ao seu redor,  e colocou um CD para tocar no rádio. Ouviu durante algum tempo, depois se levantou e foi trocar de roupa. Lavou o rosto, escovou os dentes. Então voltou para o seu quarto cometeu o assassinato silenciosamente. Viu o sangue escorrer e pendurar-se na navalha até pingar, como pingava a goteira no teto naquele dia chuvoso de pré-inverno. Sempre gostara de dias como aquele. Especialmente do cheiro que o ozônio espalhava pela atmosfera quando as gotas da chuva entravam em contato com a terra no chão."
"Sentiu mais um pouco o morno que o sangue deixava nos seus braços. Sentiu o vento. Observou o cômodo mais uma vez, e olhou de relance para o cadáver no chão. O quarto permanecia calmo, assim como na hora em que acordara, inerte ao que havia acabado de acontecer. Ouviu novamente a goteira no teto, e sentiu mais uma vez o cheiro agradável que o ozônio proporcionava à atmosfera. Inspirou demoradamente, prendeu o ar durante alguns segundos, e então soltou, com um suspiro longo e arrebatador, roubando todos os gases da atmosfera para si por entre seus poros."
"E então de súbito ele se levantou. Guardou o cadáver no armário e saiu pela porta do quarto para se sentar na sala com seus outros familiares, enquanto lia o jornal e esperava pelo almoço: já havia tomado o seu café da manhã."


sábado, 7 de abril de 2012

Um Copo de Chocolate-Quente Que Nunca Existiu.

Não sei porque demorei tanto tempo pra postar esse texto aqui. Enfim:

''É estranho estar de volta aqui, e é ainda mais estranho pensar que nada aqui nunca existiu. Ou melhor, poderia nunca ter existido: O copo de chocolate quente-europeu com chantili por cima e cauda de chocolate, as mesas de madeira que eu costumava me sentar, a fileira de CD's que por tanto tempo eu vasculhei todo o domingo, esperando por ela. Ela, que acima de todas as outras coisas aqui, realmente nunca existiu. Mas como? Como se eu tinha um encontro marcado, e só não sabia a hora, e só não sabia o dia, e só não sabia com quem? Como, se no papel rascunho era definitivo, a caneta sem destino e os meus braços teus? Teus. Mais uma vez."
"Só que dessa vez eu não voltei aqui porque era tarde de domingo e eu não tinha nada melhor pra fazer. Não voltei aqui pra esperar por alguém que nunca existiu, pra comprar um CD dos Ramones que eu nunca escutei, nem pra tomar mais uma vez um copo do melhor chocolate-quente de Salvador. Não. Dessa vez estou mais lúcido. Mais sóbrio, mesmo bêbado Mais corajoso, e incontavelmente mais forte. Pronto pra mudar, mesmo que isso signifique nunca mais vir aqui. Mesmo que isso signifique nunca mais ver o Alex, que há muito deve ter largado o emprego de garçom pra seguir seus sonhos. Mesmo que isso signifique nunca mais ler livros de crianças usando casaco de flanela, calça social e pinta de intelectual. Mesmo que isso signifique nunca mais tomar o chocolate-quente europeu com chantili e calda de chocolate por cima. Mesmo que isso signifique admitir que ela, de all-star e camisa de uma banda qualquer que eu goste, com cabelos pretos em contraste com os vermelhos, de pele branca e com o rosto limpo nunca existiu, e nem nunca existirá."
"O verão lá fora está rilhando que só. 'The sun will be shining and the children will burn'. Não há espaço para continuar a ser criança. Esta na hora de mais uma vez tudo mudar diante dos meus olhos, e dessa vez eu prometo acompanhar sem resistir. De deixar pra trás uma cafeteria, uma livraria, um chocolate-quente e uma menina que só. De deixar pra trás mais um pouco de mim, e seguir em frente, sem olhar pra trás."


"Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião  formada sobre tudo"
- Raul Seixas

terça-feira, 6 de março de 2012

Eu sinto um tipo de melancolia que é difícil de classificar. Que não é depressão. Que não é nostalgia. Que não é bem-ensaiada, ou talvez só um pouco de cada uma das três. Que eu não sei dizer se é poética, e que só uma parte de mim sabe que é de verdade. Sinto como se eu estivesse me fechando. Como se estivesse deixando de fora os problemas do mundo, e me concentrando demais em mim. Como se eu estivesse me reunindo. Me concentrando nas minhas pequenas coisas e nas poucas músicas que tenho posto pra tocar no rádio. Não sei se isso é bom. Também não sei se é ruim. Talvez também não importe mais. Eu já cheguei até aqui, de que importa então aonde estou? Me sinto instável. Como se qualquer coisa - qualquer cena que me diga algo - pudesse me fragilizar, me desabar, ao mesmo tempo em que eu sei que de mim mesmo eu tiro o meu sustento, e que hora ou outra eu vou me levantar e encarar, mais uma vez, o terrível perigo que se posta em minha frente.
Mas a questão é que simplesmente não é isso o que eu quero agora. Não quero ter que ser forte. Não quero rir, me embebedar ou beijar uma garota qualquer. Queria poder simplesmente olhar o mar e não ficar preocupado se o sol já se pôs, ou se já passam das dez, e ainda por cima vou ter que pegar um ônibus pra ir pra casa. Queria poder me refugiar numa cidade de interior e deixar meu lado caseiro, conservador, religioso se apoderar de mim. Sem ter que me preocupar com os deveres que eu já não me preocupo, ou com as obrigações que eu me obrigo a fazer. Queria estar à seis horas de carro de Salvador e sair pra passear com um alguém sem que uma força maior me impedisse. Queria simplesmente poder me esconder durante mais do que uma noite, e não pensar que uma hora o dia vai ter que nascer. Queria poder passar um tempo, só que e os meus poucos pertences que eu mais me importo, e as poucas músicas que eu tenho ouvido e mostrá-las a você, onde você é qualquer um. Qualquer uma do gênero feminino. Queria ter realmente alguém em quem pensar enquanto escrevo isso tudo, mas ao invés disso só me vem flashes confusos das mesmas poucas pessoas. Talvez aí que esteja a parte da nostalgia nisso tudo. Quando às outras, simplesmente me surge branco quando penso nelas.
Eu sei, eu sei que uma hora terei de enfrentar isso tudo. Sei que uma gora eu terei de enfrentar tudo, de novo. Sei que uma hora chegará o momento de erguer a cabeça, a caneta e, mais uma vez seguir em frente, deixando pra trás tudo que não me cabe mais. Sei disso, assim como também sei de todas as minhas responsabilidades. Como eu sei que agora, ao invés de estar escrevendo aqui, deveria estar aprendendo o que são radiandos para não me atrasar para a aula de amanhã. Mas não importa. Eu ainda assim prefiro estar aqui. Mesmo que só por enquanto.



Remember, Remember



V For Vendetta Rain

The fifth of november.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Adolescencia.


Não sei como começar a escrever aqui. Não sei como introduzir o assunto, mas parece que pelo menos aqui isso não importa. Sinto - com uma certa angustia - que as coisas tem começado a se estabilizar. Ou pelo menos é a impressão que eu tenho, em parte ou talvez totalmente pelo fato de eu ter parado de me cobrar tanto sobre tudo. Acho que é porque eu percebi que eu simplesmente não sou obrigado a fazer nada disso, ou pelo menos não por outra pessoa, e em parte também não por mim. Acho que fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, que eu não me sentia apaixonado, que eu não sentia como se nada mais tivesse tanta importância, que eu simplesmente tinha me esquecido de como era. De como erar estar do lado de fora dessa loucura toda, desse mundo louco, dessa cidade louca. Simplesmente havia me esquecido sobre o que era se esconder, e nãoo se importar com o momento em que te encontrarem. Talvez eu tenha focado demais a minha vida nisso nos últimos tempos. Não sei. A questão é que eu não sei de mais nada, porque essa parte de mim que há tanto tempo eu havia esquecido - uma parte que não fosse tão obsessiva - me plantou essa dúvida dentro das minhas tão poucas certezas. E não adianta eu negar isso pra mim mesmo. Eu não sei se há realmente ainda um lugar para o qual voltar, nem se ainda há alguém esperando por mim no fim. E mais do que isso, por mais que eu sinta culpa por não sentir a mínima culpa, eu também já não sei mais se eu quero mesmo tudo isso. Já não sei mais se eu consigo. Já não sei mais se eu realmente sei por onde ir. Mais uma vez: eu parei de me cobrar das coisas que eu já nem sei mais se posso dar, e muito menos das que eu sei que eu não posso. É cruel, eu sei. E é mais cruel ainda o fato de eu não sentir a mínima culpa por isso tudo. Talvez porque eu saiba que não é minha culpa, ou talvez ainda por eu saber que também não é culpa sua. É cruel, mas pelo menos é sincero. Pelo menos eu sei que eu não estou forjando, ou forçando um final feliz, porque honestamente, eu não sei se aqui dentro isso ainda é possível. Ou melhor, mesmo que possível, não sei mais se é isso o que vai realmente acontecer. Talvez não para a minha vida, é claro, mas para essa história. Para a minha história. Para o meu romance adolescente, que já nem tem mais muito a ver com romance, e muito mais com a parte do adolescente.
   Acho que já não sei mais também como continuar a escrever isso aqui. Porque se eu não soube como dar um começo, imagine um final. Talvez eu já não saiba mais também nem como continuar depois do ponto de continuação.
   E talvez a tristeza também só bata depois que eu veja que a tinta acabou.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Carole King - Chains



Chains, my baby's got me locked up in chains
And they ain't the kind that you can see
Whoa, it's chains of love got a hold on me, yeah
Chains, well, I can't break away from these chains
Can't run around 
'Cause I'm not free
Whoa, these chains of love won't let me be, yeah
Now believe me when I tell you 
I think you're fine
I'd like to hold you 
But I can't break away from all of these chains
My baby's got me locked up in chains
And they ain't the kind that you can see
Whoa, it's chains of love got a hold on me, yeah
I wanna tell you, pretty baby 
Your lips look sweet
I'd like to kiss them
But I can't break away from all these chains
My baby's got me locked up in chains
And they ain't the kind that you can see
Whoa, it's chains of love got a hold on me, yeah
My baby's got me locked up in chains
And they ain't the kind that you can see
Whoa, it's chains of love got a hold on me, yeah
Chains, chains of love
Chains of love
Chains of love
Oh, these chains of love got a hold on me

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Última Terça-Feira do Mês

Parece bobo escrever um texto com esse título tanto tempo depois, e pra falar a verdade, é. Ainda assim, eu vou escrever isso, porque eu sei que, pelo bobo que eu tantas vezes sou, eu preciso disso, porque eu preciso fazer com que essa última fração da minha mente que me perturba entenda de uma vez por todas, que acabou. Que na verdade nem começou. Que tudo foi embora há tantos meses, numa última terça-feira do mês, como essa, no pior show que uma banda já deu.
Eu esperava que, de alguma forma tudo voltasse, no final. Que tudo se encaixa-se, como eu costumava pensar. Que de alguma forma aquele filme voltasse a significar alguma coisa, que aquele pássaro não precisasse voar, seguir em frente, e se encontrasse de novo com o que seria uma arara. Com o que seria o Rio. Com o que seria a Lua, que eu sempre soube, não foi por sua causa que brilhou forte naquele dia, naquela noite, naquela musica.
Afinal de contas, tudo não passou de um romance adolescente, mais imaginário que qualquer outra coisa, e é por isso que eu estou escrevendo isso, afinal. Porque até eu sei que eu nem ligo mais. Porque até eu sei que nada mais vai acontecer, porque eu não quero mais que nada aconteça e porque não há mais nada para acontecer. Porque os Beatles há muito saíram da minha cabeça, e você também.Você. Porque hoje é a última terça-feira do mês, e porque eu prometi pra mim que será também a última que eu vou ainda me lembrar disso, ou pelo menos a última que eu vou me importar. Porque seus sapatos já não andam mais na minha cabeça, e nem os seus olhos nos meus pensamentos. Então diga isso pra eles. Diga, de uma vez por todas o que eu já sei há tanto tempo. Diga, e depois não crie uma errata por cima. Porque Beta é um peixe que vive sozinho, e porque a juventude hoje está mais prematura do que nunca. Entre nos meus pensamentos e diga isso a eles. Eles não sentirão nada, então simplesmente diga!
Eu sei que eu estou pronto para zarpar. Que tenho uma viagem inteira para percorrer. Sei dos desafios que me esperam e agora, mais do que nunca, sei que estou pronto para enfrentá-los. A última coisa que eu preciso é simplesmente isso. É deixar pra trás, o último pedaço de mim que insiste em me segurar. O último chocolate quente que eu ainda não derramei. O último romance que eu ouvi no ipod: Você.
Simplesmente pegue suas coisas, seus sapatos, suas meias e o seu pírcingue de cima da mesa. O seu casaco, sua mochila, seu cabelo e seus olhos cor de mel. Simplesmente pegue todos eles e dê o fora, levando o último pedaço do meu coração dentro da sua barriga. Saia pela porta do estúdio e não dê atenção aos cachorros. Bata o portão e simplesmente vá embora, da minha mente, dos meus sonhos, da última nota que eu toquei na guitarra e que você cantou. Simplesmente, vire a esquina e suma fingindo que nada aconteceu, porque é a verdade: Nada aconteceu. Saia daqui com seus tênis xadrez, e não deixe pegadas. Não aqui. Não na minha mente. Não no meu coração. Simplesmente se ponha junto com a lua, assim como junto com ela você veio, e me faça crer que na noite seguinte ela não estará lá. Não aquela lua. Não a mesma.
Simplesmente se vá, e não volte. E não olhe pra trás, nessa noite fria, me deixando contemplar os seus últimos passos, os seus últimos traços e os seus últimos cantos, nessa última terça-feira do mês.
Ponto Final.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Submarino

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Submarino. É como eu me sinto agora. Na verdade é como eu, nos últimos meses todos tenho me sentido, e que tenho mentido até pra mim mesmo pra tentar me convencer do contrário. Sei que não vou me sentir aliviado quando terminar de escrever isso. Sei que não vou deixar de me sentir assim e nem é o que eu quero. Tudo o que eu quero é, de uma vez por todas abrir o jogo. Ser sincero uma vez que seja, e deixar de me esconder dentro de toda essa casca inútil que durante tanto tempo eu criei para me proteger, como eu havia prometido que não faria, e como agora eu espero, mais uma vez, mesmo que não seja a última, romper. Não me importo se eu falhar. Não me importo se restar algo. Não me importo em sobrar. O que me importa simplesmente é saber, mais uma vez, mesmo que também não seja a última: é saber, é sentir, é tocar com os pés descalços a água, observar os carneiros que dançam no choque de duas ondas, sentir o pontiagudo do andar nas pedras e saber, mais uma vez, do mar. Do azul. Dos peixes e do submarino adentra às profundezas e me leva cada vez mais fundo ao único lugar onde eu quero chegar: lugar nenhum.
Sinto que nos últimos tempos os únicos instantes em que parei de mentir, mais pra mim mesmo do que pra qualquer um, foram basicamente dois: Nos meus sonhos e durante o banho. Por isso talvez esses tem sido os momentos mais estranhos do meu dia, e os que eu tenho dado mais valor também. São nos meus sonhos que eu deixo de me enganar, não conscientemente, lógico, mas certamente da forma mais sensata que o meu próprio instinto poderia me obrigar a agir. São nos meus sonhos que eu desisti, de uma vez por todas de flutuar na mais alta nuvem, e passei a mergulhar no mais profundo oceano com 9,65Km de profundidade, porque neles eu me dei conta que por culpa da gravidade - da maldita gravidade - eu não posso mais levitar, sem que por isso eu me machuque. Sem que com isso eu me empolgue e voe alto demais, onde sua força não possa me alcançar, só para que eu, Ícaro, tenha as asas queimadas e caia, em vertiginosa queda rumo ao chão, provando mais uma vez a existência da parábola que eu odeio e que insiste em me perseguir, porque sabe que eu sempre fui melhor em funções do primeiro grau. Talvez por isso os meus sonhos, a parte mais lúcida de mim, tenham desistido, e começado a me mostrar os lapsos de ralidade, os choques térmicos de água fria, as correntes elétricas de alta voltagem. Só para que eu acorde e sinta, na hora do banho, tudo isso em carne viva. Tendo lapsos e contorções debaixo do chuveiro, chorando no chão molhado do boxe. Só pra depois passar o sabonete, o xampu, o condicionador, e deixar a minha alma escorrer junto com o sabão ralo abaixo. Só pra depois me enrolar na toalha e sair do banheiro como se nada tivesse acontecido e me vestir para tomar café quando, na verdade, a coisa mais importante do meu dia acabava de acontecer.
A questão é que eu cansei. Cansei desses dois momentos tão breves no meu dia, e decidi abrir o jogo. Aqui, pra mim mesmo e pra tudo o que pra mim é mundo, e ver se, uma vez que seja, eu consigo arrancar um pouco de sinceridade, sem precisar de veritesserum algum. Se eu consigo, por mim mesmo, dizer tudo o que eu venho prendendo e negando há tanto tempo, e que eu cansei de continuar. Que cansei de esperar pelo "momento certo", que cansei de esperar quem quer que seja pra me acompanhar nisso tudo, porque por mais que eu saiba que existem milhões de braços só me esperando pra poder me abraçar, com toda a verdade e sinceridade que existe (mesmo que não em mim), a verdade é que eu me sinto mesmo é sozinho. Submarino na imensidão de peixes que não sabem me indicar o caminho para a superfície, á qual eu nem quero mais voltar: Não quero a superfície. Não quero voltar. Não quero porque eu sei que eu não estou pronto, e sei que quando eu voltar, terei de estar. Não quero abrir os olhos até que eu saiba (realmente saiba) que é o momento certo, por mais que eu já tenha parado de me importar com isso, e não quero nenhum beijo apaixonado enquanto eu não puder dá-lo de volta com a mesma intensidade, com o mesmo calor, com o mesmo carinho e a mesma paixão. Não. Não quero romance. Quero fechar os olhos e pôr no fone de ouvido uma musica qualquer do último CD do Arctic Monkeys. Quero me enroscar com uma garota qualquer num canto, e perder os sentidos em uma festa qualquer, me distanciando de uma vez por todas do mesmo garoto que eu já deixei há tanto para trás, numa cadeira de madeira e com um livro qualquer na mão, tomando o mesmo chocolate-quente europeu que tomava há seis meses atrás. Quero enrolar um back e estar errado, porque eu simplesmente cansei de estar certo. Ou de ser "O Certo", melhor dizendo. Quero me entupir de uma bebida barata e se insano. E acima de tudo, de qualquer bebida, de qualquer garota ou alucinógeno sequer: Eu quero o mar. Quero suas ondas e o seu deslizar tranquilo. Quero a trilha sonora de um filme que me traduz e um desenho bem feito deles dois e das estrelas, pra me consolar. Quero embarcar num submarino, mesmo que não seja amarelo, e mergulhar até o décimo segundo quilômetro do oceano. Mesmo que eu não aguente, mesmo que o meu corpo não suporte a pressão, mesmo que meus olhos pulem das órbitas e eu morra quase-que-instantaneamente. É tudo o que eu quero, mesmo que ainda assim não seja sincero o bastante.
Eu disse que não iria conseguir me sentir aliviado. Aliás, agora que eu paro pra analisar, talvez nem ao menos haja pressão o suficiente.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Tudo o que eu preciso é estar perto do mar, das ondas, do cheiro de sal que me acalma. Me banhar na lua e tomar café nas estrelas, sem me preocupar, sem me ocupar, sem mais nada. Tudo o que eu preciso é que as ondas banhem os meus pés e me levem pra longe, seja lá pra onde for. Que entre areia na minha cueca e que eu sinta, na imensidão azul do mar, no canto manso das sereias, na luz púrpura da lua mais uma vez, eu mesmo. Só.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

VS The World

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Eu queria vir aqui e fazer um texto que explicasse direito, que desse a idéia completa, uma dimensão do que eu tenho vivido, mas não dá. Não dá pra pensar mais, nem esconder o drama, como eu tenho feito há muito tempo. Não dá pra guardar mais tudo o que está explodindo dentro de mim, nem escolher as palavras que façam isso melhor. É aqui, e agora. Não há pra onde correr. Não há uma grande sacada, como a que eu tenho esperado a tanto tempo, e o mais importante: não há mais ninguém. Sou só eu, sozinho, e uma avenida fria e tortuosa, que até hoje eu não terminei de escrever.
Pode ser que eu não tenha motivos pra isso. Pode até ser que seja tudo coisa da minha cabeça, loucuras, devaneios, mas isso não quer dizer que não sejam reais. Eu me perdi. Mais profundamente do que imaginava,  e mais intensamente do que achava. Cansei dos milhões de finais felizes que me perseguem. Cansei de olhar o por do sol e sorrir, cansei de ver o mar e sorrir, de terminar de correr por uma avenida e, novamente, sorrir. Eu não terminei de correr pela minha avenida. Nem nunca vou terminar. Foi uma velha amiga minha que me disse, certa vez, que a gente nunca se encontra. Que a gente só se perde, mais e mais, sem fim. E que se for pra se encontrar, tem de ser mesmo por acaso. Na época essas palavras me machucaram muito, mas agora elas me confortam, em saber que eu não estou sozinho: que não é tudo coisa da minha cabeça, que não é loucura nem alucinação sequer. Sou só eu. Só.
À essa amiga, e à muitos outros é que agora eu tenho que pedir desculpas: Eu vou demorar mais do que imaginei. Agora, só por agora, eu preciso estar por mim mesmo. Preciso cair, e levantar, e cair e levantar sozinho, mesmo sabendo que a qualquer instante, eu tenho sete, sete maravilhosos pares de braços para me abraçar e me reerguer, se um dia eu não aguentar mais. Até lá, vou fazer o possível para que isso não seja preciso: pra que eu ande com as minhas próprias pernas, e volte pra vocês novo. Diferente. Como eu sei que vou ficar a partir de agora. Mas ainda assim, que continuemos juntos, como sempre (desde cerca de dois anos e meio atrás) estivemos.
Eu sei que tudo vai mudar. Eu sei que eu vou mudar. Sei que tudo vai ter um fim. E ainda assim lutar contra o mundo não será tarefa fácil. Nada será como antes. Nem pra mim e nem pra ninguém. Mas isso não me impede de olhar pra frente, encarar as pedras do asfalto e a iluminação fraca que se dispõe na minha frente, e  continuar. Da minha maneira. De all-star cano médio ou com o vans que eu comprei. Em cada poça de lama, em cada esquina que eu virar. Com cabelo cortado, comprido ou penteado. Do jeito que for, cá estou eu: Prepare-se, mundo.