terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Piada

Rido. É a única coisa que eu tenho feito. Ou pelo menos que eu posso fazer. Rio de mim mesmo, e de tudo á minha volta. Rio da minha incerteza, da minha insegurança. Rio da desgraça que acomete os outros. Rio da desgraça que acomete à mim. Rio da vida e rio da morte. Rio da confusão que se passa dentro da minha cabeça, e de como ela é engraçada por si só. É impressionante o quanto pode ser engraçada a tristeza. O quanto pode ser engraçado o pesar. O quanto pode ser engraçado o meu não saber o que dizer, nem como continuar.
É tudo que eu sinto que sou capaz de fazer. Tenho tido oscilações de humor, e rio disso. Tenho tido dias bons e dias ruins. Nos bons não me preocupo. Nos ruins rio. Rio porque é simplesmente, absolutamente, extremamente tão engraçado! Rio porque eu estou absolutamente em desespero, e isso é tão ridicularmente engraçado! Rio porque eu simplesmente não sei mais o que fazer, e é tão engraçado tudo! Rio porque estou em cacos, e simplesmente não sei como me juntar de novo. Rio porque é a única forma que eu consigo de encarar a verdade de frente, e não voltar a mentir pra mi mesmo de novo. Porque eu simplesmente não aguento mais. Porque eu sinto que minha cabeça está a ponto de explodir numa gargalhada infame, que vai durar pra sempre e vai, finalmente, sintetizar tudo aquilo que eu estou entalado há tanto tempo pra dizer. Que vai ser sincera. Que não vai ser boa nem má. Que vai ser sarcástica como o mundo merece que ela seja. Porque ele é simplesmente uma grande piada, e o melhor que temos a fazer é rir dela, pra sempre e sem se preocupar.
Entretanto, eu sei que não consigo. Porque apesar de tudo, a minha risada é seca, e me dá sede continuar a rir assim. Porque eu sei que afinal de contas eu não estou louco, mesmo que quem me veja na rua rindo pense isso. Porque eu sei que sou incapaz de atingir o orgasmo cômico. Porque eu apenas não cheguei ainda no fundo do poço. Não cheguei ainda no fundo do abismo que demorei tanto tempo pra me jogar. Tenho rido na queda, mas o mais engraçado mesmo é o medo que eu ainda tenho de chegar no fundo. O mais engraçado é o medo que eu tenho de ter que subir de volta tudo de novo, só pra depois perceber que eu na verdade ainda estou caindo, e só não tinha percebido. É a apreensão que eu sinto simplesmente pela ideia de continuar a existir. De continuar a estar nessa constante depressão, que por tão raros momentos deixa que eu seja realmente feliz. E que quando deixa, me faz sentir culpado, porque eu sei que não mereço. Porque eu sei que eu falhei comigo mesmo e com o mundo ao meu redor. Sei que falhei, e sei que mais uma vez estou falhando comigo mesmo por me culpar por todas essas coisas. Talvez seja isso que se resuma na verdade todos os últimos tempos. Uma falha. Uma grande falha que não faz sentido ter existido. Que eu passei meses tentando argumentar comigo mesmo e tentando consertá-la, mas não tem como consertar o que não faz sentido. Então se não tenho como consertar, a única coisa que eu posso fazer é rir.
E por isso eu não consigo parar de rir. Ando na rua, e rio das minhas lembranças. Rio da miséria que a minha cidade está. Rio da mãe pobre com duas crianças no colo, e sei que sou nojento por causa disso. Rio da minha própria nojeira. Rio da minha ridícula revolta adolescente, e do quanto eu simplesmente não sei o que fazer. Rio do meu não saber pra onde ir. Rio de todas as expectativas que se quebraram na minha frente, e da minha personalidade que se quebrou junto com ela. Rio do quão confuso e perdido eu estou, e rio ainda mais quando me lembro que eu esperava que agora eu tivesse encontrado a paz. Rio da ideia de final feliz que eu deveria estar vivendo, e rio quando me pego pensando novamente numa outra pra viver depois. Rio da esperança. Rio da ideia que algum dia as coisas vão melhorar, e toda a minha confusão desaparecer. Rio do quão besta e bizarro pode ser eu estar escrevendo tudo isso, e querendo que as pessoas leiam só para que saibam que eu não estou bem. Rio da falta de poesia que tem nisso tudo, e de como eu abdiquei à ela para vomitar essas palavras aqui. Rio pensando o quão desanimador deve ser ler tudo isso o que tem aqui, e ainda mais do quão isso tudo é a realidade. E como eu queria que não fosse. Como eu queria só rir despreocupado e relaxar, com uma piada banal e infame, que não fosse a minha vida.

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