domingo, 12 de agosto de 2012

O Abismo, A Caverna e A Verdade

Me sinto confuso, mas de uma forma diferente da qual estou acostumado. Sinto não como se simplesmente não entendesse mais nada mas como se, de súbito, tudo o que eu achava que havia para se entender não existisse mais. Ou como se existisse, mas estivesse distante de mim agora, e eu simplesmente não preciso me preocupar. Sinto como se um grande peso tivesse sido tirado da minha cabeça, e agora eu simplesmente não soubesse como reagir à ausência dele. Não como se eu sentisse falta. Como se houvesse um vácuo que eu simplesmente não sei como ocupar, e não sinto uma necessidade disso agora. Como se eu simplesmente não soubesse, e parasse a frase por ai. Não sei. Não sei o que sentir, então não me coloco a responsabilidade de tentar sentir nada. Não sei o que esperar, então não espero nada. Não sei o que fazer, então trato de pôr a comida no prato do cachorro e fazer o que der na telha no meu resto de sábado à noite. Na verdade, sinto que sei de muita pouca coisa nesse momento, e portanto não me coloco a responsabilidade de tentar saber nada mais do que eu de fato sei.
Sei que alguma coisa quebrou dentro de mim. Sei que vejo meu reflexo nos cacos do espelho, e não os entendo. E não tenho a menor ideia se não entendê-los agora é só uma etapa para entendê-los depois, e também não me importo com isso agora. Sei que eu pulei de um abismo, e que não sinto como se já tivesse atingido o chão. Me sinto estático à queda, e com o olhar perdido pela janela do ônibus que pego pra voltar pra casa às terças. Sinto como se eu afundasse cada vez mais e, apesar disso, não me aproximasse do chão, e nem temesse o momento em que este fosse chegar. Não por coragem. Não por bravura. Simplesmente por saber que não há motivo para temer quando este vier. E sei também que não entendo ainda o que significa a ideia que o chão sou eu que determino. Simplesmente sigo, em vertiginosa queda rumo ao chão que eu não sei quando virá.
Sei que o que eu vi era a verdade, e que continuo até agora observando-a e vendo as minhas expectativas caírem por terra diante dela, sem me importar. Sei que o que eu vejo agora é a liberdade, e que não sei o que fazer com ela. Porque eu estive e ainda estou numa caverna. Numa cela de prisão. E os meus olhos se acostumaram de tal forma com a escuridão que eu quase esqueci como era a luz. Mas aconteceu que a porta simplesmente se abriu. As sombras pararam de dançar. Me deram as chaves, e não havia ninguém do lado de fora para me impedir. Eu ainda estou dentro, mas a porta está aberta, e ainda me parece estranha a perspectiva de sair. Porque afinal de contas eu não sei o que existe lá fora, e eu também não sei o que espero que exista do lado de lá. Não sei se espero que seja a verdade mais uma vez. Não sei se espero que seja uma outra espécie de prisão. E eu sei que ainda não estou pronto pra sair para averiguar. Sei que ainda preciso de tempo pra os meus olhos se acostumarem à luz, e sei que ainda preciso permanecer seguro na escuridão da minha caverna.
E apesar disso, sei que estou certo. Sei que sigo agora o meu próprio caminho, e não tenho pressa pra isso. Porque eu sei que não acabou. Porque um lírio murchou e eu o guardei bem guardado onde ele vai durar pra sempre. E porque depois nasceu outro em outro lugar, só meu. Só pra mim. E porque mesmo que também seja efêmero, sei que ainda assim é pra sempre. Porque nada morre. Porque nada nunca acaba definitivamente. Porque a vida é cíclica, e das terras do meu jardim nascerá outro, e nascerão milhares. E porque contrariando todas as expectativas, acabou que não foi esse o final. Que não foi esse o último capítulo de um livro, nem a última cena de um filme qualquer. Acabou que não foi esse o final do texto, nem o final feliz que eu tanto esperava. E sim um ponto de continuação.

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(Continuação)

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