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Submarino. É como eu me sinto agora. Na verdade é como eu, nos últimos meses todos tenho me sentido, e que tenho mentido até pra mim mesmo pra tentar me convencer do contrário. Sei que não vou me sentir aliviado quando terminar de escrever isso. Sei que não vou deixar de me sentir assim e nem é o que eu quero. Tudo o que eu quero é, de uma vez por todas abrir o jogo. Ser sincero uma vez que seja, e deixar de me esconder dentro de toda essa casca inútil que durante tanto tempo eu criei para me proteger, como eu havia prometido que não faria, e como agora eu espero, mais uma vez, mesmo que não seja a última, romper. Não me importo se eu falhar. Não me importo se restar algo. Não me importo em sobrar. O que me importa simplesmente é saber, mais uma vez, mesmo que também não seja a última: é saber, é sentir, é tocar com os pés descalços a água, observar os carneiros que dançam no choque de duas ondas, sentir o pontiagudo do andar nas pedras e saber, mais uma vez, do mar. Do azul. Dos peixes e do submarino adentra às profundezas e me leva cada vez mais fundo ao único lugar onde eu quero chegar: lugar nenhum.
Sinto que nos últimos tempos os únicos instantes em que parei de mentir, mais pra mim mesmo do que pra qualquer um, foram basicamente dois: Nos meus sonhos e durante o banho. Por isso talvez esses tem sido os momentos mais estranhos do meu dia, e os que eu tenho dado mais valor também. São nos meus sonhos que eu deixo de me enganar, não conscientemente, lógico, mas certamente da forma mais sensata que o meu próprio instinto poderia me obrigar a agir. São nos meus sonhos que eu desisti, de uma vez por todas de flutuar na mais alta nuvem, e passei a mergulhar no mais profundo oceano com 9,65Km de profundidade, porque neles eu me dei conta que por culpa da gravidade - da maldita gravidade - eu não posso mais levitar, sem que por isso eu me machuque. Sem que com isso eu me empolgue e voe alto demais, onde sua força não possa me alcançar, só para que eu, Ícaro, tenha as asas queimadas e caia, em vertiginosa queda rumo ao chão, provando mais uma vez a existência da parábola que eu odeio e que insiste em me perseguir, porque sabe que eu sempre fui melhor em funções do primeiro grau. Talvez por isso os meus sonhos, a parte mais lúcida de mim, tenham desistido, e começado a me mostrar os lapsos de ralidade, os choques térmicos de água fria, as correntes elétricas de alta voltagem. Só para que eu acorde e sinta, na hora do banho, tudo isso em carne viva. Tendo lapsos e contorções debaixo do chuveiro, chorando no chão molhado do boxe. Só pra depois passar o sabonete, o xampu, o condicionador, e deixar a minha alma escorrer junto com o sabão ralo abaixo. Só pra depois me enrolar na toalha e sair do banheiro como se nada tivesse acontecido e me vestir para tomar café quando, na verdade, a coisa mais importante do meu dia acabava de acontecer.
A questão é que eu cansei. Cansei desses dois momentos tão breves no meu dia, e decidi abrir o jogo. Aqui, pra mim mesmo e pra tudo o que pra mim é mundo, e ver se, uma vez que seja, eu consigo arrancar um pouco de sinceridade, sem precisar de veritesserum algum. Se eu consigo, por mim mesmo, dizer tudo o que eu venho prendendo e negando há tanto tempo, e que eu cansei de continuar. Que cansei de esperar pelo "momento certo", que cansei de esperar quem quer que seja pra me acompanhar nisso tudo, porque por mais que eu saiba que existem milhões de braços só me esperando pra poder me abraçar, com toda a verdade e sinceridade que existe (mesmo que não em mim), a verdade é que eu me sinto mesmo é sozinho. Submarino na imensidão de peixes que não sabem me indicar o caminho para a superfície, á qual eu nem quero mais voltar: Não quero a superfície. Não quero voltar. Não quero porque eu sei que eu não estou pronto, e sei que quando eu voltar, terei de estar. Não quero abrir os olhos até que eu saiba (realmente saiba) que é o momento certo, por mais que eu já tenha parado de me importar com isso, e não quero nenhum beijo apaixonado enquanto eu não puder dá-lo de volta com a mesma intensidade, com o mesmo calor, com o mesmo carinho e a mesma paixão. Não. Não quero romance. Quero fechar os olhos e pôr no fone de ouvido uma musica qualquer do último CD do Arctic Monkeys. Quero me enroscar com uma garota qualquer num canto, e perder os sentidos em uma festa qualquer, me distanciando de uma vez por todas do mesmo garoto que eu já deixei há tanto para trás, numa cadeira de madeira e com um livro qualquer na mão, tomando o mesmo chocolate-quente europeu que tomava há seis meses atrás. Quero enrolar um back e estar errado, porque eu simplesmente cansei de estar certo. Ou de ser "O Certo", melhor dizendo. Quero me entupir de uma bebida barata e se insano. E acima de tudo, de qualquer bebida, de qualquer garota ou alucinógeno sequer: Eu quero o mar. Quero suas ondas e o seu deslizar tranquilo. Quero a trilha sonora de um filme que me traduz e um desenho bem feito deles dois e das estrelas, pra me consolar. Quero embarcar num submarino, mesmo que não seja amarelo, e mergulhar até o décimo segundo quilômetro do oceano. Mesmo que eu não aguente, mesmo que o meu corpo não suporte a pressão, mesmo que meus olhos pulem das órbitas e eu morra quase-que-instantaneamente. É tudo o que eu quero, mesmo que ainda assim não seja sincero o bastante.
Eu disse que não iria conseguir me sentir aliviado. Aliás, agora que eu paro pra analisar, talvez nem ao menos haja pressão o suficiente.
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