terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A Última Terça-Feira do Mês

Parece bobo escrever um texto com esse título tanto tempo depois, e pra falar a verdade, é. Ainda assim, eu vou escrever isso, porque eu sei que, pelo bobo que eu tantas vezes sou, eu preciso disso, porque eu preciso fazer com que essa última fração da minha mente que me perturba entenda de uma vez por todas, que acabou. Que na verdade nem começou. Que tudo foi embora há tantos meses, numa última terça-feira do mês, como essa, no pior show que uma banda já deu.
Eu esperava que, de alguma forma tudo voltasse, no final. Que tudo se encaixa-se, como eu costumava pensar. Que de alguma forma aquele filme voltasse a significar alguma coisa, que aquele pássaro não precisasse voar, seguir em frente, e se encontrasse de novo com o que seria uma arara. Com o que seria o Rio. Com o que seria a Lua, que eu sempre soube, não foi por sua causa que brilhou forte naquele dia, naquela noite, naquela musica.
Afinal de contas, tudo não passou de um romance adolescente, mais imaginário que qualquer outra coisa, e é por isso que eu estou escrevendo isso, afinal. Porque até eu sei que eu nem ligo mais. Porque até eu sei que nada mais vai acontecer, porque eu não quero mais que nada aconteça e porque não há mais nada para acontecer. Porque os Beatles há muito saíram da minha cabeça, e você também.Você. Porque hoje é a última terça-feira do mês, e porque eu prometi pra mim que será também a última que eu vou ainda me lembrar disso, ou pelo menos a última que eu vou me importar. Porque seus sapatos já não andam mais na minha cabeça, e nem os seus olhos nos meus pensamentos. Então diga isso pra eles. Diga, de uma vez por todas o que eu já sei há tanto tempo. Diga, e depois não crie uma errata por cima. Porque Beta é um peixe que vive sozinho, e porque a juventude hoje está mais prematura do que nunca. Entre nos meus pensamentos e diga isso a eles. Eles não sentirão nada, então simplesmente diga!
Eu sei que eu estou pronto para zarpar. Que tenho uma viagem inteira para percorrer. Sei dos desafios que me esperam e agora, mais do que nunca, sei que estou pronto para enfrentá-los. A última coisa que eu preciso é simplesmente isso. É deixar pra trás, o último pedaço de mim que insiste em me segurar. O último chocolate quente que eu ainda não derramei. O último romance que eu ouvi no ipod: Você.
Simplesmente pegue suas coisas, seus sapatos, suas meias e o seu pírcingue de cima da mesa. O seu casaco, sua mochila, seu cabelo e seus olhos cor de mel. Simplesmente pegue todos eles e dê o fora, levando o último pedaço do meu coração dentro da sua barriga. Saia pela porta do estúdio e não dê atenção aos cachorros. Bata o portão e simplesmente vá embora, da minha mente, dos meus sonhos, da última nota que eu toquei na guitarra e que você cantou. Simplesmente, vire a esquina e suma fingindo que nada aconteceu, porque é a verdade: Nada aconteceu. Saia daqui com seus tênis xadrez, e não deixe pegadas. Não aqui. Não na minha mente. Não no meu coração. Simplesmente se ponha junto com a lua, assim como junto com ela você veio, e me faça crer que na noite seguinte ela não estará lá. Não aquela lua. Não a mesma.
Simplesmente se vá, e não volte. E não olhe pra trás, nessa noite fria, me deixando contemplar os seus últimos passos, os seus últimos traços e os seus últimos cantos, nessa última terça-feira do mês.
Ponto Final.

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