Não sei como começar a escrever aqui. Não sei como introduzir o assunto, mas parece que pelo menos aqui isso não importa. Sinto - com uma certa angustia - que as coisas tem começado a se estabilizar. Ou pelo menos é a impressão que eu tenho, em parte ou talvez totalmente pelo fato de eu ter parado de me cobrar tanto sobre tudo. Acho que é porque eu percebi que eu simplesmente não sou obrigado a fazer nada disso, ou pelo menos não por outra pessoa, e em parte também não por mim. Acho que fazia tanto tempo que eu não me sentia assim, que eu não me sentia apaixonado, que eu não sentia como se nada mais tivesse tanta importância, que eu simplesmente tinha me esquecido de como era. De como erar estar do lado de fora dessa loucura toda, desse mundo louco, dessa cidade louca. Simplesmente havia me esquecido sobre o que era se esconder, e nãoo se importar com o momento em que te encontrarem. Talvez eu tenha focado demais a minha vida nisso nos últimos tempos. Não sei. A questão é que eu não sei de mais nada, porque essa parte de mim que há tanto tempo eu havia esquecido - uma parte que não fosse tão obsessiva - me plantou essa dúvida dentro das minhas tão poucas certezas. E não adianta eu negar isso pra mim mesmo. Eu não sei se há realmente ainda um lugar para o qual voltar, nem se ainda há alguém esperando por mim no fim. E mais do que isso, por mais que eu sinta culpa por não sentir a mínima culpa, eu também já não sei mais se eu quero mesmo tudo isso. Já não sei mais se eu consigo. Já não sei mais se eu realmente sei por onde ir. Mais uma vez: eu parei de me cobrar das coisas que eu já nem sei mais se posso dar, e muito menos das que eu sei que eu não posso. É cruel, eu sei. E é mais cruel ainda o fato de eu não sentir a mínima culpa por isso tudo. Talvez porque eu saiba que não é minha culpa, ou talvez ainda por eu saber que também não é culpa sua. É cruel, mas pelo menos é sincero. Pelo menos eu sei que eu não estou forjando, ou forçando um final feliz, porque honestamente, eu não sei se aqui dentro isso ainda é possível. Ou melhor, mesmo que possível, não sei mais se é isso o que vai realmente acontecer. Talvez não para a minha vida, é claro, mas para essa história. Para a minha história. Para o meu romance adolescente, que já nem tem mais muito a ver com romance, e muito mais com a parte do adolescente.
Acho que já não sei mais também como continuar a escrever isso aqui. Porque se eu não soube como dar um começo, imagine um final. Talvez eu já não saiba mais também nem como continuar depois do ponto de continuação.
E talvez a tristeza também só bata depois que eu veja que a tinta acabou.
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