São nos dias cinzas como hoje que a gente tem que ficar mais esperto. Ter cuidado pra não cair na rotina, pra não ficar parado, pra não se desvirtuar, pra não se esquecer de procurar a resposta que a gente busca, sem nem saber direito qual é a pergunta que nos foi dada também. Pra não se contentar com o óbvio, sair do ócio, esquecer do sócio, tomar um antídoto pra viver melhor. São nos dias como hoje que eu me sinto sozinho no meu barco, mas que eu lembro que eu tenho tudo o que eu preciso bem aqui, ao meu lado, me acompanhando até a morte desde o dia em que eu nasci pela primeira vez.
Eu me divirto procurando as respostas para as minhas crises existenciais. Pra mim, cada depressão parece um desafio a mais para ser vencido; uma resposta a mais para ser encontrada pra uma pergunta que foi você mesmo que fez, quase como num jogo em que se você vacilar fica pra trás no tabuleiro e as outras peças te pulam, deixando você lá, sem se importar se você vai conseguir chegar no fim ou não. Mas é aí que a vida mostra que ela é muito maior do que um jogo de tabuleiro; porque nesse mundo quem não está sozinho pode sempre voltar com a esperança de ainda um dia chegar no final, mesmo que caia quantas vezes forem, sempre é possível se reerguer, se ainda houver alguém capaz de estender a mão. E pra mim, eu sei que vão ter sempre as mesmas peças que eu escolhi pra me ajudar a atravessar os obstáculos, as casas vermelhas, as pedras no meio do caminho. E cada uma delas também sabe que, enquanto eu for vivo, sempre terá ao menos um par de mãos para ajudar a se reerguer. Desobedecendo o Código Pirata, resgatando os que ficam para trás, porque sabemos que sem eles chegar no fim é muito mais difícil.
São nesses dias como hoje que as minhas peças me seguram. Quando me foge a memória o que eu jurei não me esquecer, quando eu sinto que a vida se tornou um pouco menos dinâmica e que estou mais perto de parar. Quando a depressão me atinge, quando eu não consigo encontrar a resposta certa e quando eu sinto os meus temores cada vez mais perto de mim, são eles que me seguram. São eles que me jogam pra me dar um lugar pra onde ir, que me dão a certeza de que se eu falhar, eles estarão lá pra mim. Seja bispo, cavalo, torre ou rainha. Sejam Damas ou sejam cavaleiros, num jogo de subir ou descer escadas: com armas nas mãos ou com pedaços de graveto, com armaduras de metal ou com uma samba-canção ao vento. Sejam cabelos lisos, ondulados, pretos castanhos ou ruivos. Estão todos ali, e disso eu não me esqueço. Nos dias cinzas que nos enganam, seja na chuva ou seja no sol, são eles que são o meu oásis no deserto. São eles que são os meus Safe Days.
Nenhum comentário:
Postar um comentário