Sinto que mais uma vez me perdi, dessa vez pelas bordas de mim mesmo e não de um outro alguém. Os dias se seguem e eu não faço nada, porque eu sei que agora, o que eu mais preciso fazer é absolutamente nada. Deixo o meu cérebro, os meus músculos, a minha alma se atrofiar e não faço nada, porque eu cheguei a um ponto em que desaprendi a falar, desaprendi a cantar, desaprendi a amar, e a coisa que mais me expressa agora é o silêncio. É o não fazer nada. É a sensação bêbada que se faz sentir quando se fuma, é a sensação chapada que se faz sentir quando se bebe. É a confusão.
Eu tenho guardado os meus momentos de loucura para as horas do banho, que é quando eu deixo a água jorrar na minha cabeça, o corpo fraquejar e sentir a minha alma, escorrendo esgoto abaixo, junto com o antigo eu. Junto com o menino, doce, romântico, pequeno que eu deixei pra trás numa cafeteria que nem nunca existiu. Vivendo um romance de cabelos negros que também nunca existiu, com um copo, de chocolate quente europeu, que nunca existiu. Sei que não há mais como fugir. Que o futuro bate a porta, e que por mais assustador que seja, que a gente tem que levar. Eu sei que, mais uma vez, tudo mudou rápido demais, e que tudo vai continuar mudando rápido, demais. As folhas do ouono sumiram antes que eu tivesse tempo de varrer as que haviam no chão, e o inverno se foi antes mesmo que desse tempo de eu comprar um agasalho. A primavera passou sem flores, e agora só o verão que se dispõe a minha frente, mais uma vez. Me desafiando, como quem sabe que sou incapaz de aproveitá-lo. Ao invés disso, me contento em me organizar. Em trocar os posters das paredes, em arrumar os livros melhor. Não tenho medo. O que a vida me ensinou eu levo pra ela inteira. Sei que preciso de tempo, que preciso de paz. Sei que não posso viver um amor agora, e sei também que viajar de avião está fora de cogitação. Que preciso de um tempo na minha terra natal. Que preciso de tempo para conhecê-la, e que preciso de espaço para refogá-la. Não tenho medo. Dezesseis anos pisando no chão duro da cidade me fizeram forte, e ser forte nesses tempos escuros, porém ensolarados, abafados, calorentos, abençoados, é o que faz com que eu não perca a razão. Com que eu me mantenha lúcido, porém bêbado, focalizado, porém chapado. E reduz todas as incertezas a uma, singela e fraca:
- Eu quase que não sei de nada, mas desconfio de muita coisa.
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Verão de 2011; O que há de ser feito:
- Trocar sapatos novos
- Comprar 2 calças jeans
- Arrumar o quarto
- Fazer pinturas nas paredes (entre dias 16 e 4 do ano que vem)
- Escrever
- Pegar repertórios para o grupo de jazz
- Treinar no piano (Wave e Noite Feliz)
- Ir na Avenida 7/Comprar suporte p/ Nárnia
- Ir no Oficina, depois dar um passeio pela cidade - Ir até o farol da Barra
- Comprar poster do Pink Floyd
- Levar guitarra no Lutier (comprar adaptadores também)
- Tirar documentos (Identidade nova, Título de eleitor, Salvador Card)
- Assistir "Closer"
- Organizar reunião com a Criado-Mudo
- Sair no dia do Natal/Ano Novo também
- Aniversário de Tom
- Despedida de Guilherme
- Ir à praia
- Ler "Preciso dizer que te amo" do Cazuza
- Desenhar
- Assistir especiais de Natal com Bárbara
- Ir brincar com João
- Crescer.
... Tudo o que eu preciso essas ferias.
- Comprar 2 calças jeans
- Arrumar o quarto
- Fazer pinturas nas paredes (entre dias 16 e 4 do ano que vem)
- Escrever
- Pegar repertórios para o grupo de jazz
- Treinar no piano (Wave e Noite Feliz)
- Ir na Avenida 7/Comprar suporte p/ Nárnia
- Ir no Oficina, depois dar um passeio pela cidade - Ir até o farol da Barra
- Comprar poster do Pink Floyd
- Levar guitarra no Lutier (comprar adaptadores também)
- Tirar documentos (Identidade nova, Título de eleitor, Salvador Card)
- Assistir "Closer"
- Organizar reunião com a Criado-Mudo
- Sair no dia do Natal/Ano Novo também
- Aniversário de Tom
- Despedida de Guilherme
- Ir à praia
- Ler "Preciso dizer que te amo" do Cazuza
- Desenhar
- Assistir especiais de Natal com Bárbara
- Ir brincar com João
- Crescer.
... Tudo o que eu preciso essas ferias.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
domingo, 20 de novembro de 2011
Álcool e Cigarros, II
"Fazia muito tempo que eu não voltava ali. Flashes invadiam os meus pensamentos a todo o momento, e eu os deixava adentrar a minha mente e se misturarem lá dentro com todo o tipo de substância que eu havia ingerido até então. Sem resistir. Sem criar pra mim mesmo a ilusão de que eu não soubesse que aquilo fosse acontecer. Sem imaginar, por um segundo sequer que eu seria capaz de resistir. Não ali. Não naquela noite, não naquele dia. Não."
"Eu havia me distanciado de onde estava havendo a festa. Para mim era impossível entrar naquela onda. A minha onda é outra. Meus limites são álcool e cigarros, e nada mais. Fora maconha, fora ácido, fora LSD e outra que for. Eu tenho o que eu acredito, e isso eu consigo distinguir diante da visão turva que seja, diante da tonteira e da consciência que se apodera de mim. Eu não me engano. Sei até aonde dá pra ir."
"Evitei me demorar demais ali. Não queria que me perguntassem aonde eu estava, nem porque de ter demorado pra coltar pra a festa. Vivia ali, no escuro e na pressa ao lado da piscina outrora suja as minhas lembranças, os meus devaneios, os restos de loucura que ainda se apoderam de mim, e que se misturam como que por osmose ás substancias que me adentraram ao corpo. Minhas pernas bambeavam. Eu andava torto em direção ao muro que se punha á minha frente. Do outro lado crianças brincavam de esconde-esconde enquanto uma delas tentava argumentar um mal-batido 'salve-todos'. Desejei no íntimo fazer parte da brincadeira, mas pulei o muro e me dirigi de volta á festa á qual havia sumido. Já não queria também me demorar mais ali."
"No caminho, fui tratando de observar: a grama, as casas, as crianças que já haviam voltado a brincar. Sentia nos meus passos os instantes que havia deixado atrás, e tratava de olhar pra frente tentando não perder o foco. Desci a escada, atravessei o resto do gramado que faltava para chegar á porta da casa. A festa se concentrava lá dentro - fora estavam as lembranças dos tempos passados. Respirei fundo e dei uma última olhada no cenário familiar. Observei a linha que dividia a porta de entrada do exterior ao qual me encontrava. Que dividia a nova realidade de um tempo que já passou. Que dividia a minha alma em dois: na vontade de continuar, de seguir reto, de caminhar e não olhar pra trás; e na vontade de voltar e ficar mais um pouquinho, de pedir ao maquinista pra dar marcha ré, mesmo sabendo que trem nenhum anda pra trás. Observei o céu. Poucas estrelas brilhavam devido ás luzes da cidade grande. Fora dali era tudo muito mais simples, com mais estrelas no céu, com mais peixes no mar. Quisera eu que a vida na cidade fosse mais simples, menos corrida, menos atrapalhada. Com um pouco menos de responsabilidade e sem a necessidade de um litro de cachaça pra acompanhar. Olhei novamente o cenário ao meu redor. As meninas haviam parado de brincar de esconde-esconde e haviam ido para suas casas e para seus pais. Não adiantava se esconder. Adentrei a divisória da porta e amanheci no dia seguinte no chão, ao lado de um sofá e com o pé direito doendo."
"Eu havia me distanciado de onde estava havendo a festa. Para mim era impossível entrar naquela onda. A minha onda é outra. Meus limites são álcool e cigarros, e nada mais. Fora maconha, fora ácido, fora LSD e outra que for. Eu tenho o que eu acredito, e isso eu consigo distinguir diante da visão turva que seja, diante da tonteira e da consciência que se apodera de mim. Eu não me engano. Sei até aonde dá pra ir."
"Evitei me demorar demais ali. Não queria que me perguntassem aonde eu estava, nem porque de ter demorado pra coltar pra a festa. Vivia ali, no escuro e na pressa ao lado da piscina outrora suja as minhas lembranças, os meus devaneios, os restos de loucura que ainda se apoderam de mim, e que se misturam como que por osmose ás substancias que me adentraram ao corpo. Minhas pernas bambeavam. Eu andava torto em direção ao muro que se punha á minha frente. Do outro lado crianças brincavam de esconde-esconde enquanto uma delas tentava argumentar um mal-batido 'salve-todos'. Desejei no íntimo fazer parte da brincadeira, mas pulei o muro e me dirigi de volta á festa á qual havia sumido. Já não queria também me demorar mais ali."
"No caminho, fui tratando de observar: a grama, as casas, as crianças que já haviam voltado a brincar. Sentia nos meus passos os instantes que havia deixado atrás, e tratava de olhar pra frente tentando não perder o foco. Desci a escada, atravessei o resto do gramado que faltava para chegar á porta da casa. A festa se concentrava lá dentro - fora estavam as lembranças dos tempos passados. Respirei fundo e dei uma última olhada no cenário familiar. Observei a linha que dividia a porta de entrada do exterior ao qual me encontrava. Que dividia a nova realidade de um tempo que já passou. Que dividia a minha alma em dois: na vontade de continuar, de seguir reto, de caminhar e não olhar pra trás; e na vontade de voltar e ficar mais um pouquinho, de pedir ao maquinista pra dar marcha ré, mesmo sabendo que trem nenhum anda pra trás. Observei o céu. Poucas estrelas brilhavam devido ás luzes da cidade grande. Fora dali era tudo muito mais simples, com mais estrelas no céu, com mais peixes no mar. Quisera eu que a vida na cidade fosse mais simples, menos corrida, menos atrapalhada. Com um pouco menos de responsabilidade e sem a necessidade de um litro de cachaça pra acompanhar. Olhei novamente o cenário ao meu redor. As meninas haviam parado de brincar de esconde-esconde e haviam ido para suas casas e para seus pais. Não adiantava se esconder. Adentrei a divisória da porta e amanheci no dia seguinte no chão, ao lado de um sofá e com o pé direito doendo."
- Tirado de "O Inferno de Rum" de Thiago Corneio
sábado, 12 de novembro de 2011
As Relíquias da Morte
Coragem. Afinal essa é a palavra que resume tudo. E talvez eu tenha esperado tanto tempo pra que a inspiração chegasse e eu pudesse, enfim, escrever tudo o que eu tenho pra dizer, que talvez eu tenha até esquecido já tudo o que eu não disse. Só que agora fui eu que cansou de esperar, e decidi dizer, com inspiração ou sem, com poesia ou com a letra garranchosa tudo o que eu não disse, que disse pela metade, por um quarto, com dois meios e um inteiro: Espaçamento pra começar parágrafo; letra maiúscula; umedecer os lábios. É o seguinte:
Não sei se me faço por entender, ou se estou em mais um devaneio louco no meio do mar. Não sei se faço sentido ou se me encontro agora sem sentidos, desacordado, pelo mundo do meu quarto, numa avenida serpeante e assustadora, que nem mais é estrada. Não sei se estou ancorado ou se estou ao mar aberto, não sei se estamos em março ou se já é dezembro, não sei se é mesmo o Rio que eu quero ou se me basta Salvador. Salvador, me salva à dor de te perder! Me salva à angustia de ficar! Me salva a dúvida, por ter dúvida, Salvador, ó Salvador!
Não sei se me faço por entender, mas isso é o mais perto que consigo. A distancia tem me protegido ao longo dos últimos meses. Tem me mimado, me dado carinho, me feito crescer até aonde ela pudesse deixar, até onde eu pudesse me esticar sem soltar a sua mão, me libertando ao mesmo tempo em que me prende, sem me deixar sair dos seus braços para o mundo, para o que há lá fora e que eu sei, me espera. Em cada esquina, em cada avenida escura e tortuosa, em cada abismo sem fim a vida me espera, e lá há sempre uma nova surpresa, um novo desafio, um novo pedaço de terra não explorado, um novo porém que eu não consigo me esticar para agarrar, porque a distancia me prende e eu, mais uma vez, concedo.
Mas eu sei que não é assim que funciona. A vida não te mima, não te acaricia antes de dar umas belas porradas na cabeça, não te faz crescer sem entender a dor que isso pode ser, porque afinal, ninguém escolhe crescer. Em cada corredor escuro os lapsos da realidade me atingem, me forçam a enxergar, me fazem impotente diante sexualidade que me pornógrafa, que me masturba insistentemente, mas que não consegue atingir o orgasmo, talvez por incompetência, talvez por imprudência ou por causa de cigarros. Por álcool e cigarros.
E no meio disso tudo, nem mais mesmo Harry Potter conseguiria se manter isento, indiferente, firme como sempre foi. Porque todo mundo pode se dar ao luxo de fraquejar, de cair, chorar e lamentar pelos feridos, pra só depois poder se reerguer, mais firme, mais forte, pronto pra a batalha final, sem mais se intimidar pelo mal que há na sua frente, mesmo que por dentro o medo seja imenso, fulminante, incontrolável e ainda assim amansado. Porque se coragem é a palavra que define tudo, o medo é não o seu correspondente o oposto, mas sim seu irmão. Porque ter coragem afinal de contas é isso: é ter medo, e encará-lo de frente. É olhar nos olhos da fera, é fitá-lo como o adversário poderoso que é, e ir na sua direção sem pernas-bambas, pronto para viver e clamar vitória ou morrer com dignidade. É encarar os domingos, os sábados, as segundas-feiras e todos os dias que sejam. É olhar para o futuro e ver o Cristo Redentor na minha frente, ou observar mais uma vez o Elevador Lacerda no alto. É lembrar do passado com carinho, e viver o presente determinado. É escrever num caderno de couro palavras singelas, e logo depois digitá-las sem medo de perder nelas a magia. É fazer o que agora eu tenho feito e ainda mais, para que depois o sol nasça de novo, e mais uma vez brilhem os meus olhos, como sempre brilharam desde o primeiro momento.
E é bem verdade, que tudo isso eu ainda não consegui trazer pra mim. É bem verdade que a distancia ainda me protege, ainda me liberta e muito mais que ainda me limita. E é bem verdade que eu preciso disso ainda, e mais ainda que até que eu não precise eu ainda tenho muito a fazer. Mas o ano ainda não acabou. As provas finais se aproximam e a recuperação ameaça me tirar tempo, e nada disso tem nada a ver com escola, notas e coisa e tal. É bem verdade que eu preciso desse tempo para me recompor, para transcender as linhas imaginárias que me prendem, para romper com o destino e mais uma vez encontrar-me com Deus, seja ele quem for. Seja a minha consciência, um ser onisciente ou simplesmente eu. Eu preciso me encontrar. Sejam nas estrelas brilhando no céu ou em plutão que me finaliza. Que me mata. Que me faz ir ereto de encontro ao destino, ao desafio, aos olhos cintilantes da serpente que me oscila. Que me muda e me faz ser finalmente
Eu.
Não sei se me faço por entender, ou se estou em mais um devaneio louco no meio do mar. Não sei se faço sentido ou se me encontro agora sem sentidos, desacordado, pelo mundo do meu quarto, numa avenida serpeante e assustadora, que nem mais é estrada. Não sei se estou ancorado ou se estou ao mar aberto, não sei se estamos em março ou se já é dezembro, não sei se é mesmo o Rio que eu quero ou se me basta Salvador. Salvador, me salva à dor de te perder! Me salva à angustia de ficar! Me salva a dúvida, por ter dúvida, Salvador, ó Salvador!
Não sei se me faço por entender, mas isso é o mais perto que consigo. A distancia tem me protegido ao longo dos últimos meses. Tem me mimado, me dado carinho, me feito crescer até aonde ela pudesse deixar, até onde eu pudesse me esticar sem soltar a sua mão, me libertando ao mesmo tempo em que me prende, sem me deixar sair dos seus braços para o mundo, para o que há lá fora e que eu sei, me espera. Em cada esquina, em cada avenida escura e tortuosa, em cada abismo sem fim a vida me espera, e lá há sempre uma nova surpresa, um novo desafio, um novo pedaço de terra não explorado, um novo porém que eu não consigo me esticar para agarrar, porque a distancia me prende e eu, mais uma vez, concedo.
Mas eu sei que não é assim que funciona. A vida não te mima, não te acaricia antes de dar umas belas porradas na cabeça, não te faz crescer sem entender a dor que isso pode ser, porque afinal, ninguém escolhe crescer. Em cada corredor escuro os lapsos da realidade me atingem, me forçam a enxergar, me fazem impotente diante sexualidade que me pornógrafa, que me masturba insistentemente, mas que não consegue atingir o orgasmo, talvez por incompetência, talvez por imprudência ou por causa de cigarros. Por álcool e cigarros.
E no meio disso tudo, nem mais mesmo Harry Potter conseguiria se manter isento, indiferente, firme como sempre foi. Porque todo mundo pode se dar ao luxo de fraquejar, de cair, chorar e lamentar pelos feridos, pra só depois poder se reerguer, mais firme, mais forte, pronto pra a batalha final, sem mais se intimidar pelo mal que há na sua frente, mesmo que por dentro o medo seja imenso, fulminante, incontrolável e ainda assim amansado. Porque se coragem é a palavra que define tudo, o medo é não o seu correspondente o oposto, mas sim seu irmão. Porque ter coragem afinal de contas é isso: é ter medo, e encará-lo de frente. É olhar nos olhos da fera, é fitá-lo como o adversário poderoso que é, e ir na sua direção sem pernas-bambas, pronto para viver e clamar vitória ou morrer com dignidade. É encarar os domingos, os sábados, as segundas-feiras e todos os dias que sejam. É olhar para o futuro e ver o Cristo Redentor na minha frente, ou observar mais uma vez o Elevador Lacerda no alto. É lembrar do passado com carinho, e viver o presente determinado. É escrever num caderno de couro palavras singelas, e logo depois digitá-las sem medo de perder nelas a magia. É fazer o que agora eu tenho feito e ainda mais, para que depois o sol nasça de novo, e mais uma vez brilhem os meus olhos, como sempre brilharam desde o primeiro momento.
E é bem verdade, que tudo isso eu ainda não consegui trazer pra mim. É bem verdade que a distancia ainda me protege, ainda me liberta e muito mais que ainda me limita. E é bem verdade que eu preciso disso ainda, e mais ainda que até que eu não precise eu ainda tenho muito a fazer. Mas o ano ainda não acabou. As provas finais se aproximam e a recuperação ameaça me tirar tempo, e nada disso tem nada a ver com escola, notas e coisa e tal. É bem verdade que eu preciso desse tempo para me recompor, para transcender as linhas imaginárias que me prendem, para romper com o destino e mais uma vez encontrar-me com Deus, seja ele quem for. Seja a minha consciência, um ser onisciente ou simplesmente eu. Eu preciso me encontrar. Sejam nas estrelas brilhando no céu ou em plutão que me finaliza. Que me mata. Que me faz ir ereto de encontro ao destino, ao desafio, aos olhos cintilantes da serpente que me oscila. Que me muda e me faz ser finalmente
Eu.
"Mas ele finalmente entendeu o que Dumbledore estivera tentando lhe dizer. Era, pensou Harry, a diferença entre ser arrastado para a arena e enfrentar uma luta mortal e entrar de cabeça erguida. Alguns diriam, talvez, que a escolha era mínima, mas Dumbledore sabia - e eu também, pensou Harry com súbito orgulho, bem como meus pais - que aí residia toda a diferença do mundo."
"Coragem."
- Tirado de Harry Potter e o Enigma do Príncipe, Capítulo 23, Página 402, Segundo parágrafo.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Stars - The xx
I can give it all on the first date
I don't have to exist outside this place
And dear know that I can change
But if stars, shouldn't shine
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
And I can draw the line on the first date
I'll let you cross it
Let you take every line I've got
When the time gets late
I'll let you cross it
Let you take every line I've got
When the time gets late
But if stars, shouldn't shine
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
If you want me
Let me know
Where do you wanna go
No need for talking
I already know
If you want me
Why go
Let me know
Where do you wanna go
No need for talking
I already know
If you want me
Why go
I can give it all on the first date
I don't have to exist outside this place
And dear know that I can change
I don't have to exist outside this place
And dear know that I can change
But if stars, shouldn't shine
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
By the very first time
Then dear it's fine, so fine by me
'Cos we can give it time
So much time
With me
sábado, 8 de outubro de 2011
Preciso me encontrar - Cartola
-
Deixe-me ir, preciso andarPreciso andar
Vou por aí à procurar
Rir pra não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir, preciso andar
Preciso andar
Vou por aí à procurar
Rir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir, preciso andar
Preciso andar
Vou por aí à procurar
Sorrir pra não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Que eu me encontrar
Quando eu me encontrar
Depois, depois
Depois que eu me encontrar...
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
Não deixe o samba morrer
Não deixe o samba morrer, meu amor
não deixe a poesia sem lar
Não deixe o samba morrer, meu senhor
que assim eu fico sem lugar
Não deixe o samba morrer
não deixe o nosso amor acabar
Não deixe que eu veja pra crer
que cá, já não é mais lá
Porque se o samba morrer, eu morro junto
vou virar assunto das redes de noticias
Mas eu levo junto toda a batucada
toca chama, a navalha, do meu jeito que for
E deixo pra ti toda a minha herança,
minha musica, minha dança, o meu samba-carnaval
E deixo pra ti toda a balburdia
toda a injuria, de quem não vai acreditar
Porque se o samba morrer, eu dou a volta por cima
mudo cada nota, cada rima, até virar rock 'n roll
E se o samba morrer, eu vou virar vagabundo, um guru, um oriundo
de ouvidos, o que for
E até aprendo a cantar,
blues jazz, bossa-nova o que for
Mas eu vou seguir levando,
no meu peito, eu vou levando, o samba do meu amor
Não deixe o samba morrer,
não deixe a chama esfriar
Não deixe que eu veja pra crer,
que já passou o meu lugar
Não, não deixe o samba morrer, não deixe o samba morrer!
não deixe o mundo parar de girar
Não, não deixe o samba morrer,
que sem ele eu não quero ficar
Não deixe o samba morrer
(não deixe o samba morrer)
Não, não deixe o samba morrer
não deixe o samba morrer
Não deixe o samba...
não deixe a poesia sem lar
Não deixe o samba morrer, meu senhor
que assim eu fico sem lugar
Não deixe o samba morrer
não deixe o nosso amor acabar
Não deixe que eu veja pra crer
que cá, já não é mais lá
Porque se o samba morrer, eu morro junto
vou virar assunto das redes de noticias
Mas eu levo junto toda a batucada
toca chama, a navalha, do meu jeito que for
E deixo pra ti toda a minha herança,
minha musica, minha dança, o meu samba-carnaval
E deixo pra ti toda a balburdia
toda a injuria, de quem não vai acreditar
Porque se o samba morrer, eu dou a volta por cima
mudo cada nota, cada rima, até virar rock 'n roll
E se o samba morrer, eu vou virar vagabundo, um guru, um oriundo
de ouvidos, o que for
E até aprendo a cantar,
blues jazz, bossa-nova o que for
Mas eu vou seguir levando,
no meu peito, eu vou levando, o samba do meu amor
Não deixe o samba morrer,
não deixe a chama esfriar
Não deixe que eu veja pra crer,
que já passou o meu lugar
Não, não deixe o samba morrer, não deixe o samba morrer!
não deixe o mundo parar de girar
Não, não deixe o samba morrer,
que sem ele eu não quero ficar
Não deixe o samba morrer
(não deixe o samba morrer)
Não, não deixe o samba morrer
não deixe o samba morrer
Não deixe o samba...
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Tarde em Itapuã
Em Itapuã agora está fazendo o maior sol. Por lá não há nenhuma nuvem no céu, exceto por algumas que aparecem mais ao longe na linha do horizonte, que chovem forte, e que teimam em empatar a visão numa tarde linda como essa, mas que não importa, porque por enquanto a tarde está linda que só, e não há tempestade que vá tirar isso de Itapuã.
Em Itapuã as flores crescem, o mar brilha e o mundo canta feliz, dando vivas porque Itapuã está feliz. Em Itapuã, Tupi Guanabá faz um ritual para o pajé Tupi Guarabá, que por sua vez faz uma oferenda ao Deus Tupi Guaguará, que aceita a oferenda com o maior prazer e vai embora com as mais abanando, mas com o coração leve que só.
Em Itapuã a música toca cada vez mais bela, a terra soa cada vez mais fértil, e até poste já inventou de nascer por lá. Em Itapuã há música e há danças, e há motivo pra dançar, e há motivo pra cantar o amor que hoje vive lá. Em Itapuã a vida é bela, a morte é incerta e também já não é mais tópico pra se viver à pensar. Por lá as árvores sambam, todos os santos jantam e a tristeza também já não tem lugar pra morar. Por lá o rock é festa, o samba é promessa e o álcool um complemento servido pra acompanhar.Em Itapuã a tarde nunca foi tão bela, e Itapuã agradece por ter finalmente alguém pra passar a tarde por lá.
Em Itapuã as flores crescem, o mar brilha e o mundo canta feliz, dando vivas porque Itapuã está feliz. Em Itapuã, Tupi Guanabá faz um ritual para o pajé Tupi Guarabá, que por sua vez faz uma oferenda ao Deus Tupi Guaguará, que aceita a oferenda com o maior prazer e vai embora com as mais abanando, mas com o coração leve que só.
Em Itapuã a música toca cada vez mais bela, a terra soa cada vez mais fértil, e até poste já inventou de nascer por lá. Em Itapuã há música e há danças, e há motivo pra dançar, e há motivo pra cantar o amor que hoje vive lá. Em Itapuã a vida é bela, a morte é incerta e também já não é mais tópico pra se viver à pensar. Por lá as árvores sambam, todos os santos jantam e a tristeza também já não tem lugar pra morar. Por lá o rock é festa, o samba é promessa e o álcool um complemento servido pra acompanhar.Em Itapuã a tarde nunca foi tão bela, e Itapuã agradece por ter finalmente alguém pra passar a tarde por lá.
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Dossiê do Teatro
Por:
Lucas Gesteira,
Dom Quixote,
Bentinho,
Fernando Anitelli
E ainda por cima, Conceição
Querendo falar de música, acabo falando de mim:
- Starlight – Muse: “I Just want to hold, you in my arms – Eu só quero te ter nos meus braços”
- Indiferença – Móveis Coloniais de Acajú – “Se o começo é o fim, não faz mais diferença”
- Águas de Março – Antonio Carlos Jobim: “São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida, no teu coração”
- Eu te amo – Chico Buarque: “não, acho que estás se fazendo de tonta, te dei meus olhos pra tomares conta, agora conta como hei de partir...”
- VCR – The XX: “You say you think we are the best thing, and you, you just know, you just do – Você diz que nós somos a melhor coisa, e você, você simplesmente sabe, você simplesmente faz”
- Getting Better – The Beatles: “It’s getting better all the time, just getting better, all the time – Está ficando melhor todo o tempo, apenas ficando melhor, todo o tempo”
- I’m Stickin With You – The Velvet Underground: “But with you by my side I can do anything, when we swing, babe, we hang past right and wrong – Mas com você ao meu lado eu posso fazer qualquer coisa, quando dançamos penduramos o passado, certo ou errado”
- Guerra Civil – Cazuza: “Tem sempre um lugar onde você não está”
- Sea of Love – Cat Power: “That day, I knew you were my pet – Aquele dia, eu soube que você seria o meu favorito”
-The Great Gig in the Sky * – Pink Floyd
*musica instrumental, mas eu gosto muito da parte do meio em que a mulher volta a gritar
- Sunday Morning – The Velvet Underground: “There's always someone, around you who will call, It's nothing at all – Sempre tem alguém à sua volta que irá chamar, não é nada”
- Café com Leite – Móveis Coloniais de Acajú – “E a sádica saudade eu vi, que até cubista mais cubano sambaria para se distrair”
- Us and Than – Pink Floyd – “Us, and them, and after all we're only ordinary men. – Nós e eles, e afinal somos todos homens comuns”
- Shooting Star – Bob Dylan: “If I was still the same, If I ever became what you wanted me to be - Se eu ainda era o mesmo, se eu me tornasse o que você queria que eu fosse”
- The Only Exception – Paramore: “I know you're leaving in the morning, when you wake up, leave me with some kind of proof it's not a dream - Eu sei que você vai embora pela manhã, quando acordar, me deixe com alguma prova de que isso não foi um sonho”
- Deixa Estar – Los Hermanos: “Vocês vão aprender que nessa vida não se pode mais errar, vão descobrir
que entre as estrelas e o chão existe o mar”
que entre as estrelas e o chão existe o mar”
- Faz Parte do Meu Show – Cazuza: “Vivo num clipe sem nexo, um terror, retrocesso meio bossa-nova e Rock’and Roll”
- When I’m Sixty-Four – The Beatles: “And if you say the word, I could stay with you – E se você dissesse a palavra, eu poderia ficar com você”
- Touch Me – The Doors: “I'm gonna love you, 'Til the stars fall from the sky, For you and I - Eu vou tea mar, até que as estrelas caiam do ceu, para você e eu”
- Oração – A Banda Mais Bonita da Cidade: “Coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe da dispensa, cabe o meu amor.”
- Último Romance – Los Hermanos: “E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei”
- Malandragem Dá Um Tempo – Barão Vermelho: “Ah, vou apertar, mas não vou acender agora, se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora”
- Samba de Ir Embora Só – O Teatro Mágico: “Lembra, que o que valeu a pena, foi a nossa cena não, ter pressa pra passar.”
Textos do Blog:
Rio, Junho, 1984.
Quatro da manhã, cemitério do Caju... Madrugada fria e a gente não parava de chorar... Escondidos, perambulando feito fantasmas, arrastando corrente, pelos cantos do velório… almas penadas.
Àquela hora, não havia mais ninguém na sala com o Júlio, exceto eu e Cazuza, que, por todos os motivos do mundo, não conseguíamos parar de olhar para o caixão fechado, nem parar de chorar, nem deixar de ir ao banheiro cheirar mais, pra continuar chorando:
“Perder um cara como o Júlio é como uma decapitação… A gente ficou órfão do nosso irmão mais velho”, sussurrei para um Cazuza igualmente desmoronado, que me respondia: “Órfãos e fudidos, você quer dizer”,
e emendou: “Vão chupar a nossa carótida...” Sim, essas visões sombrias já pairavam no ar o tempo todo.
Não parávamos de imaginar as consequências daquela perda. A minha desolação era inédita; nunca estive me sentindo tão dentro do fim, tão nada e com a alma sangrando. Vomitava meus pavores:
“Agora estamos à deriva. A gente naufraga aqui. Esse velório, esse cemitério, essa morte é como se estivéssemos chegando nas portas do inferno. A partir de agora, todas as nossas esperanças serão deixadas do lado de fora. Todas as esperanças de conquistarmos a nossa autonomia, a nossa estética. Perdemos o trem da história, Cazuza. Sem o Júlio nós não temos mais uma turma; agora somos um monte de ninguéns!... Chegou a hora dos nossos inimigos se apoderarem da cena pra formar alianças, justamente com aqueles que mais queríamos ver longe. É a hora do pastiche e da indulgência… A hora do frenesi dos mesmos cadáveres insepultos de sempre, sugando a juventude dos que nada mais têm a oferecer, além do próprio sangue de barata. É a hora dos come-quieto nos fazerem de vilões. É a hora da morte da possibilidade da transformação, da morte da nossa ingênua esperança em querer mudar o mundo. É a hora da morte da liberdade do delírio... O Universo não conspira mais a nosso favor. O inferno é aqui e agora, e nossas esperanças ficaram num céu natimorto.”
Estava delirantemente transtornado pela dor e vagamente anestesiado pela cocaína; sem que necessariamente estivesse inteiramente fora do meu juízo.
O Júlio era um homem-arquivo, um poço das mais variadas informações. Um ser de uma inteligência prodigiosa, de grande coragem e inspiração; um articulador.
Era um esteta, e perseguia obsessivamente a novidade, digerindo tudo que estava ao seu alcance, sem barreiras, sem dogmas. Fora a sua alegria... O Júlio era um grande poeta, uma criatura engraçadíssima, uma aventura ambulante, um sexista, um sátiro e, antes de qualquer coisa, um amigo raro.
Com tudo isso passando pela cabeça, naquele velório, suor e lágrimas se fundiam. O silêncio se desfazia com o cantar dos passarinhos, que despertavam com o dia a me causar calafrios. Na sala, o caixão fechado invocava toda uma angústia da incapacidade em não poder dar o último abraço, o último beijo. Daí pensei: “Cazuza, pensa bem: tá todo mundo dormindo, a gente tá aqui sozinho, com ele... Vamos sublimar a paradinha. Vamo esticar duas carreironas em cima do caixão? Pelo menos essa kartirinha da Ordem dos Músicos vai servir pra alguma coisa. A gente não pode se negar a fazer isso, né?” Eu fungava, apalpando freneticamente os bolsos.
“Vai ser nossa última homenagem... Não tem ninguém olhando... Vamo nessa, rapá!”
“Lobãothinho”, Cazuza de vez em quando me chamava assim, ciciando, “tá bom, vamos nessa. Mas será que não vão pegar a gente com o canudo no nariz?”
“Claro que não, bobo. Tá todo mundo cansadão, dormindo pelos cantos. E se alguém nos flagrar, vai pensar que tá tendo um visual causado pela estafa e pelo sofrimento. Além do mais, isso aqui é uma licença poética!” Depois de algum tempo tremelicando, consegui tirar a tampa de Minalba do bolso, cheia de cocaína, despejar no verso da kartira azul e pousá-la em cima do caixão. Estiquei diligentemente duas enormes lagartas que reluziam a brilhar naquela insólita superfície — que naquele instante, em todo o seu conjunto, mais parecia uma instalação de arte contemporânea —, e passei o canudo de caneta Bic pro Cazuza: “Vai nessa, meu irmão. Pensa que é pro Júlio.” Ele me deu uma risada meio amarga, meio úmida, deu uma cafungada forte e, sem perder o fôlego, me passou o canudo secando a narina no antebraço, dizendo baixinho: “A gente é muito louco! A gente é maluco...” Pausa. Mais uma risadinha canalha e emenda: “Mas também, o que nos resta?!” Respirei um pouco pra pegar um ar depois do catranco e, me dirigindo a um Júlio que, nesse exato momento, parecia descer das nuvens, todo de branco, como sempre gostava de se trajar, a nos abençoar, escancarando um sorriso de quem está pronto para gritar para seus irmãozinhos — “Aleluia, rapeisy!” —, contrito, lhe prometi: “Meu amigo, você vai sempre estar com a gente, você vai sempre estar vivendo dentro da gente, pode crer!”
Recebemos um fluxo de energia poderoso. Um momento ritual. A partir de então, a minha vida se resumiria em antes e depois daquele instante. A morte do Júlio Barroso foi um marco: existia o antes e o depois daquela perda. Não só para mim, mas para toda a história.
E olhando pro Cazuza, inflado de amor, arrematei: “E tem outra, rapá, não vão derrubar a gente assim tão mole, não! Vamos em frente, mesmo porque a morte do Júlio não vai ser em vão. A nossa vida não pode ser em vão, e, se nada pode deter uma pessoa feliz, nada poderá nos deter, pois a nossa história vai ser cada vez mais... cada vez mais...” Chorava copiosamente. Diante daquele vazio, gaguejando mentalmente, tentando pinçar na cabeça o que poderia ser “cada vez mais”, arrematei: “INTENSA!!!!” E não satisfeito, prossegui: “e cada vez mais... DIVERTIDA!!!!” E concluí: “A nossa onda de amor não há quem corte!!” Chacoalhando de emoção, abracei com toda a força o caixão.
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Ando descontente da minha geração.
Intolerante com discussões caretas sobre banda colorida e piadas sem graça. Legião de trolls bobos e sem assunto com suas ofensas gratuitas e sem proposito. Punks de GTA’s, hipsters quadriculados e enjaulados, indies do Morumbi (patrocinados), carnavalescos de micareta (embalados em abadás) e sertanejos universitários. A busca incessante por uma tribo, por uma identidade… que claramente leva ao resultado oposto.
A classe media brasileira cresceu culturalmente insegura. Não tem estofo suficiente para criar nada, e nem segurança para aceitar o que gosta. Em pânico, agrupa-se em clusters comerciais e convenientes, e não produz, não valoriza e nem gera valor a absolutamente nada. Falam bem do CQC para parecerem inteligentes, falam mal dos coloridos e emos para não parecerem ridículos. Papagaios de stand up. E, transitando pelo obvio, levam uma vida inteira sem nunca terem produzido um caco sequer.
Campanhas de twitter, e já participei de dezenas, no momento me dão a sensação de passeatas em condomínios fechados. Funcionam como caixa de reverberação, mas na maioria das vezes viram manchetes irrelevantes, rotuladas desde o início como movimento de twitter. Qual a relevância do tal do churrasco de gente diferenciada em Higienopólis? Tudo foi reduzido a uma piada. Para mim não está valendo mais.
Um pouco mais de Tropicalismo, por favor.
O texto em que Caetano defende Maria Bethania da trolagem míope da web, me lembrou de um tempo em que as pessoas afirmavam suas posições com veemência, chamavam pro pau. Um tempo em que as pessoas tinham disposição para brigar por alguma coisa, nem que seja pela própria irmã. E isso, que hoje parece muito, é insignificante para alguém que há quase 50 anos, ainda jovem, enfrentou a própria juventude afirmando: “vocês não estão entendendo nada”.
Temos que ser mais Chacrinha, e menos Faustão. O Velho Guerreiro rodava o Brasil com seu cassino, descobria talentos populares em todos os cantos, e trazia para o horário nobre. Num mesmo bloco estavam Sarajane, descoberta em Nazaré das Farinhas na Bahia, Lobão e Gilliard. Chacrinha, sem qualquer pudor, apresentava o Brasil ao Brasil. E o Brasil gosta do Brasil. Se o Samba tivesse surgindo hoje não teria resistido a Folha de São Paulo, não teria saído do recôncavo, descido do morro.
Falta mesmo é culhão e cultura para se assumir posições próprias e não temer o julgamento da classe média intelectual. Se não podemos nivelar por cima, então que seja por baixo, mas jamais pela média. A falta de referências, educação e informação, está criando uma massa enorme e apática de gente desinteressante. Culturalmente, acredito mais no Brasil do Candeal ou do Vidigal do que no Brasil do Itaim.
Saudoso de um tempo que não vivi, de histórias que não testemunhei. Posso ter entendido tudo errado. Ou talvez sejamos apenas a calmaria antes da tempestade, o silêncio antes da explosão.
E eu já queria ser explosão.
por PedroTourinho
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A gente não pode ficar pra trás. Quando tudo muda, quando qualquer coisa acaba, a gente tem mais mesmo é que mudar também, acabar também, cantar também. Quando o sol vira lua, e plutão aparece no céu, quando os signos caem, as cortinas se fecham e a cor muda. Tem coisa que não tem como se ensinar. É ser jogado na selva e aprender a caçar por si só, ou então ser caçado feito animal selvagem. Não importa os que os ambientalistas digam: tem horas que é matar ou morrer. E quando se canta pra a própria morte, é natural que ela ainda demore um pouco pra chegar, pro amor se anunciar, pra se dar um ultimo beijo enrugado e dizer "eu vou na frente meu bem, lhe encontro no outro lado". Quando a minha avó morreu, me falaram que os olhos dela diziam a mesma coisa. "Chegou a minha hora. Eu amo vocês minhas filhas, lhe amo Luiz, amo vocês meus netinhos e à minha irmã também, eu me vou agora, até logo e adeus."
As vezes nem tudo acontece como a gente pensa. As vezes tudo muda antes que a gente se dê conta, e nem sempre é pra pior. As vezes lá do alto Plutão nos surpreende e nos admira, bonito como ele é, fascinante como a vida é. Quem é experiente sabe que adeus é só um disfarce bonito pra um até logo, mesmo que o logo não seja daqui a pouco. E quando se torna experiente, meus amigos, se descobre se há muito mais à se experimentar do que o que a gente vai saber até o até logo.
"Até, Plutão, te vejo no Sol". - daqui a pouco.
Porque ninguém escolhe crescer.
Memórias das Aulas:
- E Deus disse: “Pulem!” E assim se fez a dor, e o cansaço, e a ingratidão, e assim se fez o Primeiro Dia.
- No Segundo Dia, Deus filosofou. Discutiu o que devia ser o céu e o inferno, e o que era bom e o que era mal, e o que era pagode e o que era bossa nova. Deus imaginou o mundo como deveria ser, igual e desigual, e discutiu-o, com linhas tortas, trilhando caminhos retos. E assim se fez o Segundo Dia.
- No Terceiro dia, Deus observou: Deixou que todo o universo se debatesse, como peixes fora d’água, para que depois aprendessem a nadar no ar, como nunca antes haviam sido capazes de fazê-lo. E se fez risos, e se fizeram graças, e assim se fez o Terceiro Dia.
- No Quarto Dia, fez-se o silêncio: Compassado de pequenos feixes de barulho e destrancas das portas, descompassado pelos tempos e contratempos. Silêncio sendo música, e silêncio sendo barulho? E Deus, sem a resposta para tal pergunta, foi dormir na incerteza. E sonhou com música, e sonhou com barulho, e assim se fez o Quarto Dia.
- No Quinto Dia, Deus pensou o contrário: “Faça-se barulho!” E para sua surpresa, fez-se silêncio. Estranhado de todos os modos, destrancado de todos os modos. Deus observou sua criação, e não a entendeu, e mais uma vez, deitou nos braços de Morfeu, e não se arrependeu. E assim se fez o Quinto Dia.
- No Sexto Dia, Deus parou e pensou, achando ter encontrado a resposta para o seu problema, e disse: “Deitai e escutais, porque vois sois música, e música sois vois! Criais a música como já antes criais o barulho, assim como ainda antes criais o silêncio, e dei nome a ele, à sua imagem e semelhança.” E então a música criou barulho, e o barulho criou música, e juntos, criaram a vida. E Deus viu o que se criou, e viu que era bom. E assim se fez o Sexto Dia.
- E no Sétimo Dia, Deus chorou. Esparramou músicas e debruçou suas partituras cheias de silêncio e sal, e viu o que tinha criado, e era lindo. Gritou pra Buda e para Oxalá, e para o Deus Música que existia lá no alto. No Sétimo Dia, Deus aprendeu o que nem Deus podia prever, e se emocionou como nem Deus poderia crer. Deus viu quem era, e viu que era lindo, que se amava, e que amava também o mundo que havia criado. Com Pagode, Axé, Funk e MPB. No sétimo dia, Deus descobriu que tudo é uma coisa só.
Carta pros pais:
Mãe, Pai, Tia,
Por favor, acreditem, eu sou uma boa pessoa. Por favor, não pensem que eu estou jogando fora todo o trabalho que vocês se esforçam tanto pra garantir a minha educação e a minha formação. Por favor, acreditem em mim e na pessoa que eu tento me tornar, e nos sonhos que eu ainda teimo em seguir. Não me prendam no ninho como fazem os passarinhos que amam demais os seus filhotes, me deixem me jogar, me deixe voar. Me deixem seguir a carreira que é a minha cara, e viajar pra onde quer que eu queira. Me deixem te explicar que a vida não é tão difícil quanto a gente pensa, e que tudo ainda pode ser muito mais fácil, e muito melhor, e que eu vou fazer com que seja muito mais fácil, e melhor. Por favor, me deixem pegar um ônibus quando eu for voltar pra casa, e me deixe ficar sossegado no meu quarto tocando a minha guitarra, e dormir na casa de um amigo depois de uma festa do arromba que vocês sabem, eu não fiz nada demais também. Deixem que eu vá pro banho por conta própria, e sente na mesa pra jantar porque quero a companhia de vocês, e não porque eu sou forçado a ela. Por favor, me deixe querer a sua companhia, e a do meu pai, e a da minha tia também, e por favor, por favor, mais do que tudo: me desculpem.
Um beijo e um abraço,
Do seu filho que não estuda.
Criação dos Mundos:
- Mundo dos pais:
No mundo dos pais, acima de tudo não existem os filhos. No mundo dos pais, todo mundo vai pra cama às 9 horas, sem discussão, toma o banho às 6 horas, depois ouve a missa no rádio e toma café Ás 6:40. No mundo dos pais, todo mundo vai trabalhar às seis da manha, seja pra ir vender fruta na feira, seja pra tocar o negócio na sua loja de computadores. No mundo dos pais, sexo drogas e rock ’n roll, já é coisa do passado, e não há futuro que vá mudar isso. No mundo dos pais, sexo virou costume sem prazer: necessidade animalesca de procriar; o que não faz sentido algum, porque mesmo assim estes continuam comprando 10 pacotes de camisinha por mês. No mundo dos pais, a paixão era coisa da adolescência, e não há passado nenhum que vá mudar isso. No mundo dos pais, adolescência é sujeito oculto e indeterminado, esquecido nos cantos pelos traumas que a vida adulta os trouxeram. No mundo dos pais, ser criança é melhor que ser Deus: “Quem me dera voltar aos tempos em que eu fazia carrinho de rolimã e descia ladeira abaixo montado nele!”, “Quem me dera poder voltar ao tempo em que eu brincava com a minha boneca de pano, e assistia o circo de pica-pau amarelo!”, “Quem me dera eu voltar a ser filho dos meus pais!” (...)
- Mundo dos filhos:
No mundo dos filhos, acima de tudo, não existem os pais. No mundo dos filhos, cada um vai dormir a hora que quer, cada um toma banho a hora que quer, ouve a missa se quiser, toma café se quiser. No mundo dos filhos, ninguém trabalha: seja pra ir pra a festa e tomar todas, seja pra ficar em casa jogando vídeo-game. No mundo dos filhos, Comer, Rezar e Amar não passa de uma historinha de terror que uns contam pros outros na hora de dormir, pra botar medo de que alguém vai aparecer e mudar o mundo que eles tanto amam. No mundo dos filhos, sexo é impulso: vontade por cima de vontade, que sua uma na outra e mostra a forma animalesca de transar só por prazer; o que também não faz sentido nenhum, pois continuam a não usar uma única camisinha sequer. No mundo dos filhos, paixão é coisa pra quem ainda não é careta, e não há futuro nenhum que vá mudar isso. No mundo dos filhos, ser careta é motivo de gozação, adjetivo sem locução verbal, tudo por causa da jaqueta que nunca vai desbotar, ou da brilhantina que nunca vai sair de moda. No mundo dos filhos, ter 20 anos é melhor do que ser Deus: “Quando eu tiver 20 anos vou poder beber por aí sem poder ser preso”, “Quando eu tiver 20 anos vou poder entrar naquela boate que não deixam entrar quem é de menor”, “Quando eu tiver 20 anos meu pai vai me comprar um carro zerinho!” (...)
- A Ponte Entre os Dois Mundos:
(...)
- Pai?
- Filho?
- Graças a Deus pai! Eu tive um sonho horrivel!
- Jesus! Eu também filho! Pelo amor de Deus, me dê um abraço!
(...)
- Pai?
- O que foi, filho?
- Eu te amo, sabia?
(...)
- Eu também te amo, filho. Boa noite, durma com os anjos.
O que eu queria falar com esse espetáculo:
- Com esse espetáculo, tudo o que eu queria dizer é que tudo é uma coisa só. Obrigado, e boa noite.
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