Dossiê do Teatro
Por:
Lucas Gesteira,
Dom Quixote,
Bentinho,
Fernando Anitelli
E ainda por cima, Conceição
Querendo falar de música, acabo falando de mim:
- Starlight – Muse: “I Just want to hold, you in my arms – Eu só quero te ter nos meus braços”
- Indiferença – Móveis Coloniais de Acajú – “Se o começo é o fim, não faz mais diferença”
- Águas de Março – Antonio Carlos Jobim: “São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida, no teu coração”
- Eu te amo – Chico Buarque: “não, acho que estás se fazendo de tonta, te dei meus olhos pra tomares conta, agora conta como hei de partir...”
- VCR – The XX: “You say you think we are the best thing, and you, you just know, you just do – Você diz que nós somos a melhor coisa, e você, você simplesmente sabe, você simplesmente faz”
- Getting Better – The Beatles: “It’s getting better all the time, just getting better, all the time – Está ficando melhor todo o tempo, apenas ficando melhor, todo o tempo”
- I’m Stickin With You – The Velvet Underground: “But with you by my side I can do anything, when we swing, babe, we hang past right and wrong – Mas com você ao meu lado eu posso fazer qualquer coisa, quando dançamos penduramos o passado, certo ou errado”
- Guerra Civil – Cazuza: “Tem sempre um lugar onde você não está”
- Sea of Love – Cat Power: “That day, I knew you were my pet – Aquele dia, eu soube que você seria o meu favorito”
-The Great Gig in the Sky * – Pink Floyd
*musica instrumental, mas eu gosto muito da parte do meio em que a mulher volta a gritar
- Sunday Morning – The Velvet Underground: “There's always someone, around you who will call, It's nothing at all – Sempre tem alguém à sua volta que irá chamar, não é nada”
- Café com Leite – Móveis Coloniais de Acajú – “E a sádica saudade eu vi, que até cubista mais cubano sambaria para se distrair”
- Us and Than – Pink Floyd – “Us, and them, and after all we're only ordinary men. – Nós e eles, e afinal somos todos homens comuns”
- Shooting Star – Bob Dylan: “If I was still the same, If I ever became what you wanted me to be - Se eu ainda era o mesmo, se eu me tornasse o que você queria que eu fosse”
- The Only Exception – Paramore: “I know you're leaving in the morning, when you wake up, leave me with some kind of proof it's not a dream - Eu sei que você vai embora pela manhã, quando acordar, me deixe com alguma prova de que isso não foi um sonho”
- Deixa Estar – Los Hermanos: “Vocês vão aprender que nessa vida não se pode mais errar, vão descobrir
que entre as estrelas e o chão existe o mar”
que entre as estrelas e o chão existe o mar”
- Faz Parte do Meu Show – Cazuza: “Vivo num clipe sem nexo, um terror, retrocesso meio bossa-nova e Rock’and Roll”
- When I’m Sixty-Four – The Beatles: “And if you say the word, I could stay with you – E se você dissesse a palavra, eu poderia ficar com você”
- Touch Me – The Doors: “I'm gonna love you, 'Til the stars fall from the sky, For you and I - Eu vou tea mar, até que as estrelas caiam do ceu, para você e eu”
- Oração – A Banda Mais Bonita da Cidade: “Coração não é tão simples quanto pensa, nele cabe o que não cabe da dispensa, cabe o meu amor.”
- Último Romance – Los Hermanos: “E até quem me vê lendo o jornal
Na fila do pão, sabe que eu te encontrei”
- Malandragem Dá Um Tempo – Barão Vermelho: “Ah, vou apertar, mas não vou acender agora, se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora”
- Samba de Ir Embora Só – O Teatro Mágico: “Lembra, que o que valeu a pena, foi a nossa cena não, ter pressa pra passar.”
Textos do Blog:
Rio, Junho, 1984.
Quatro da manhã, cemitério do Caju... Madrugada fria e a gente não parava de chorar... Escondidos, perambulando feito fantasmas, arrastando corrente, pelos cantos do velório… almas penadas.
Àquela hora, não havia mais ninguém na sala com o Júlio, exceto eu e Cazuza, que, por todos os motivos do mundo, não conseguíamos parar de olhar para o caixão fechado, nem parar de chorar, nem deixar de ir ao banheiro cheirar mais, pra continuar chorando:
“Perder um cara como o Júlio é como uma decapitação… A gente ficou órfão do nosso irmão mais velho”, sussurrei para um Cazuza igualmente desmoronado, que me respondia: “Órfãos e fudidos, você quer dizer”,
e emendou: “Vão chupar a nossa carótida...” Sim, essas visões sombrias já pairavam no ar o tempo todo.
Não parávamos de imaginar as consequências daquela perda. A minha desolação era inédita; nunca estive me sentindo tão dentro do fim, tão nada e com a alma sangrando. Vomitava meus pavores:
“Agora estamos à deriva. A gente naufraga aqui. Esse velório, esse cemitério, essa morte é como se estivéssemos chegando nas portas do inferno. A partir de agora, todas as nossas esperanças serão deixadas do lado de fora. Todas as esperanças de conquistarmos a nossa autonomia, a nossa estética. Perdemos o trem da história, Cazuza. Sem o Júlio nós não temos mais uma turma; agora somos um monte de ninguéns!... Chegou a hora dos nossos inimigos se apoderarem da cena pra formar alianças, justamente com aqueles que mais queríamos ver longe. É a hora do pastiche e da indulgência… A hora do frenesi dos mesmos cadáveres insepultos de sempre, sugando a juventude dos que nada mais têm a oferecer, além do próprio sangue de barata. É a hora dos come-quieto nos fazerem de vilões. É a hora da morte da possibilidade da transformação, da morte da nossa ingênua esperança em querer mudar o mundo. É a hora da morte da liberdade do delírio... O Universo não conspira mais a nosso favor. O inferno é aqui e agora, e nossas esperanças ficaram num céu natimorto.”
Estava delirantemente transtornado pela dor e vagamente anestesiado pela cocaína; sem que necessariamente estivesse inteiramente fora do meu juízo.
O Júlio era um homem-arquivo, um poço das mais variadas informações. Um ser de uma inteligência prodigiosa, de grande coragem e inspiração; um articulador.
Era um esteta, e perseguia obsessivamente a novidade, digerindo tudo que estava ao seu alcance, sem barreiras, sem dogmas. Fora a sua alegria... O Júlio era um grande poeta, uma criatura engraçadíssima, uma aventura ambulante, um sexista, um sátiro e, antes de qualquer coisa, um amigo raro.
Com tudo isso passando pela cabeça, naquele velório, suor e lágrimas se fundiam. O silêncio se desfazia com o cantar dos passarinhos, que despertavam com o dia a me causar calafrios. Na sala, o caixão fechado invocava toda uma angústia da incapacidade em não poder dar o último abraço, o último beijo. Daí pensei: “Cazuza, pensa bem: tá todo mundo dormindo, a gente tá aqui sozinho, com ele... Vamos sublimar a paradinha. Vamo esticar duas carreironas em cima do caixão? Pelo menos essa kartirinha da Ordem dos Músicos vai servir pra alguma coisa. A gente não pode se negar a fazer isso, né?” Eu fungava, apalpando freneticamente os bolsos.
“Vai ser nossa última homenagem... Não tem ninguém olhando... Vamo nessa, rapá!”
“Lobãothinho”, Cazuza de vez em quando me chamava assim, ciciando, “tá bom, vamos nessa. Mas será que não vão pegar a gente com o canudo no nariz?”
“Claro que não, bobo. Tá todo mundo cansadão, dormindo pelos cantos. E se alguém nos flagrar, vai pensar que tá tendo um visual causado pela estafa e pelo sofrimento. Além do mais, isso aqui é uma licença poética!” Depois de algum tempo tremelicando, consegui tirar a tampa de Minalba do bolso, cheia de cocaína, despejar no verso da kartira azul e pousá-la em cima do caixão. Estiquei diligentemente duas enormes lagartas que reluziam a brilhar naquela insólita superfície — que naquele instante, em todo o seu conjunto, mais parecia uma instalação de arte contemporânea —, e passei o canudo de caneta Bic pro Cazuza: “Vai nessa, meu irmão. Pensa que é pro Júlio.” Ele me deu uma risada meio amarga, meio úmida, deu uma cafungada forte e, sem perder o fôlego, me passou o canudo secando a narina no antebraço, dizendo baixinho: “A gente é muito louco! A gente é maluco...” Pausa. Mais uma risadinha canalha e emenda: “Mas também, o que nos resta?!” Respirei um pouco pra pegar um ar depois do catranco e, me dirigindo a um Júlio que, nesse exato momento, parecia descer das nuvens, todo de branco, como sempre gostava de se trajar, a nos abençoar, escancarando um sorriso de quem está pronto para gritar para seus irmãozinhos — “Aleluia, rapeisy!” —, contrito, lhe prometi: “Meu amigo, você vai sempre estar com a gente, você vai sempre estar vivendo dentro da gente, pode crer!”
Recebemos um fluxo de energia poderoso. Um momento ritual. A partir de então, a minha vida se resumiria em antes e depois daquele instante. A morte do Júlio Barroso foi um marco: existia o antes e o depois daquela perda. Não só para mim, mas para toda a história.
E olhando pro Cazuza, inflado de amor, arrematei: “E tem outra, rapá, não vão derrubar a gente assim tão mole, não! Vamos em frente, mesmo porque a morte do Júlio não vai ser em vão. A nossa vida não pode ser em vão, e, se nada pode deter uma pessoa feliz, nada poderá nos deter, pois a nossa história vai ser cada vez mais... cada vez mais...” Chorava copiosamente. Diante daquele vazio, gaguejando mentalmente, tentando pinçar na cabeça o que poderia ser “cada vez mais”, arrematei: “INTENSA!!!!” E não satisfeito, prossegui: “e cada vez mais... DIVERTIDA!!!!” E concluí: “A nossa onda de amor não há quem corte!!” Chacoalhando de emoção, abracei com toda a força o caixão.
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Ando descontente da minha geração.
Intolerante com discussões caretas sobre banda colorida e piadas sem graça. Legião de trolls bobos e sem assunto com suas ofensas gratuitas e sem proposito. Punks de GTA’s, hipsters quadriculados e enjaulados, indies do Morumbi (patrocinados), carnavalescos de micareta (embalados em abadás) e sertanejos universitários. A busca incessante por uma tribo, por uma identidade… que claramente leva ao resultado oposto.
A classe media brasileira cresceu culturalmente insegura. Não tem estofo suficiente para criar nada, e nem segurança para aceitar o que gosta. Em pânico, agrupa-se em clusters comerciais e convenientes, e não produz, não valoriza e nem gera valor a absolutamente nada. Falam bem do CQC para parecerem inteligentes, falam mal dos coloridos e emos para não parecerem ridículos. Papagaios de stand up. E, transitando pelo obvio, levam uma vida inteira sem nunca terem produzido um caco sequer.
Campanhas de twitter, e já participei de dezenas, no momento me dão a sensação de passeatas em condomínios fechados. Funcionam como caixa de reverberação, mas na maioria das vezes viram manchetes irrelevantes, rotuladas desde o início como movimento de twitter. Qual a relevância do tal do churrasco de gente diferenciada em Higienopólis? Tudo foi reduzido a uma piada. Para mim não está valendo mais.
Um pouco mais de Tropicalismo, por favor.
O texto em que Caetano defende Maria Bethania da trolagem míope da web, me lembrou de um tempo em que as pessoas afirmavam suas posições com veemência, chamavam pro pau. Um tempo em que as pessoas tinham disposição para brigar por alguma coisa, nem que seja pela própria irmã. E isso, que hoje parece muito, é insignificante para alguém que há quase 50 anos, ainda jovem, enfrentou a própria juventude afirmando: “vocês não estão entendendo nada”.
Temos que ser mais Chacrinha, e menos Faustão. O Velho Guerreiro rodava o Brasil com seu cassino, descobria talentos populares em todos os cantos, e trazia para o horário nobre. Num mesmo bloco estavam Sarajane, descoberta em Nazaré das Farinhas na Bahia, Lobão e Gilliard. Chacrinha, sem qualquer pudor, apresentava o Brasil ao Brasil. E o Brasil gosta do Brasil. Se o Samba tivesse surgindo hoje não teria resistido a Folha de São Paulo, não teria saído do recôncavo, descido do morro.
Falta mesmo é culhão e cultura para se assumir posições próprias e não temer o julgamento da classe média intelectual. Se não podemos nivelar por cima, então que seja por baixo, mas jamais pela média. A falta de referências, educação e informação, está criando uma massa enorme e apática de gente desinteressante. Culturalmente, acredito mais no Brasil do Candeal ou do Vidigal do que no Brasil do Itaim.
Saudoso de um tempo que não vivi, de histórias que não testemunhei. Posso ter entendido tudo errado. Ou talvez sejamos apenas a calmaria antes da tempestade, o silêncio antes da explosão.
E eu já queria ser explosão.
por PedroTourinho
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A gente não pode ficar pra trás. Quando tudo muda, quando qualquer coisa acaba, a gente tem mais mesmo é que mudar também, acabar também, cantar também. Quando o sol vira lua, e plutão aparece no céu, quando os signos caem, as cortinas se fecham e a cor muda. Tem coisa que não tem como se ensinar. É ser jogado na selva e aprender a caçar por si só, ou então ser caçado feito animal selvagem. Não importa os que os ambientalistas digam: tem horas que é matar ou morrer. E quando se canta pra a própria morte, é natural que ela ainda demore um pouco pra chegar, pro amor se anunciar, pra se dar um ultimo beijo enrugado e dizer "eu vou na frente meu bem, lhe encontro no outro lado". Quando a minha avó morreu, me falaram que os olhos dela diziam a mesma coisa. "Chegou a minha hora. Eu amo vocês minhas filhas, lhe amo Luiz, amo vocês meus netinhos e à minha irmã também, eu me vou agora, até logo e adeus."
As vezes nem tudo acontece como a gente pensa. As vezes tudo muda antes que a gente se dê conta, e nem sempre é pra pior. As vezes lá do alto Plutão nos surpreende e nos admira, bonito como ele é, fascinante como a vida é. Quem é experiente sabe que adeus é só um disfarce bonito pra um até logo, mesmo que o logo não seja daqui a pouco. E quando se torna experiente, meus amigos, se descobre se há muito mais à se experimentar do que o que a gente vai saber até o até logo.
"Até, Plutão, te vejo no Sol". - daqui a pouco.
Porque ninguém escolhe crescer.
Memórias das Aulas:
- E Deus disse: “Pulem!” E assim se fez a dor, e o cansaço, e a ingratidão, e assim se fez o Primeiro Dia.
- No Segundo Dia, Deus filosofou. Discutiu o que devia ser o céu e o inferno, e o que era bom e o que era mal, e o que era pagode e o que era bossa nova. Deus imaginou o mundo como deveria ser, igual e desigual, e discutiu-o, com linhas tortas, trilhando caminhos retos. E assim se fez o Segundo Dia.
- No Terceiro dia, Deus observou: Deixou que todo o universo se debatesse, como peixes fora d’água, para que depois aprendessem a nadar no ar, como nunca antes haviam sido capazes de fazê-lo. E se fez risos, e se fizeram graças, e assim se fez o Terceiro Dia.
- No Quarto Dia, fez-se o silêncio: Compassado de pequenos feixes de barulho e destrancas das portas, descompassado pelos tempos e contratempos. Silêncio sendo música, e silêncio sendo barulho? E Deus, sem a resposta para tal pergunta, foi dormir na incerteza. E sonhou com música, e sonhou com barulho, e assim se fez o Quarto Dia.
- No Quinto Dia, Deus pensou o contrário: “Faça-se barulho!” E para sua surpresa, fez-se silêncio. Estranhado de todos os modos, destrancado de todos os modos. Deus observou sua criação, e não a entendeu, e mais uma vez, deitou nos braços de Morfeu, e não se arrependeu. E assim se fez o Quinto Dia.
- No Sexto Dia, Deus parou e pensou, achando ter encontrado a resposta para o seu problema, e disse: “Deitai e escutais, porque vois sois música, e música sois vois! Criais a música como já antes criais o barulho, assim como ainda antes criais o silêncio, e dei nome a ele, à sua imagem e semelhança.” E então a música criou barulho, e o barulho criou música, e juntos, criaram a vida. E Deus viu o que se criou, e viu que era bom. E assim se fez o Sexto Dia.
- E no Sétimo Dia, Deus chorou. Esparramou músicas e debruçou suas partituras cheias de silêncio e sal, e viu o que tinha criado, e era lindo. Gritou pra Buda e para Oxalá, e para o Deus Música que existia lá no alto. No Sétimo Dia, Deus aprendeu o que nem Deus podia prever, e se emocionou como nem Deus poderia crer. Deus viu quem era, e viu que era lindo, que se amava, e que amava também o mundo que havia criado. Com Pagode, Axé, Funk e MPB. No sétimo dia, Deus descobriu que tudo é uma coisa só.
Carta pros pais:
Mãe, Pai, Tia,
Por favor, acreditem, eu sou uma boa pessoa. Por favor, não pensem que eu estou jogando fora todo o trabalho que vocês se esforçam tanto pra garantir a minha educação e a minha formação. Por favor, acreditem em mim e na pessoa que eu tento me tornar, e nos sonhos que eu ainda teimo em seguir. Não me prendam no ninho como fazem os passarinhos que amam demais os seus filhotes, me deixem me jogar, me deixe voar. Me deixem seguir a carreira que é a minha cara, e viajar pra onde quer que eu queira. Me deixem te explicar que a vida não é tão difícil quanto a gente pensa, e que tudo ainda pode ser muito mais fácil, e muito melhor, e que eu vou fazer com que seja muito mais fácil, e melhor. Por favor, me deixem pegar um ônibus quando eu for voltar pra casa, e me deixe ficar sossegado no meu quarto tocando a minha guitarra, e dormir na casa de um amigo depois de uma festa do arromba que vocês sabem, eu não fiz nada demais também. Deixem que eu vá pro banho por conta própria, e sente na mesa pra jantar porque quero a companhia de vocês, e não porque eu sou forçado a ela. Por favor, me deixe querer a sua companhia, e a do meu pai, e a da minha tia também, e por favor, por favor, mais do que tudo: me desculpem.
Um beijo e um abraço,
Do seu filho que não estuda.
Criação dos Mundos:
- Mundo dos pais:
No mundo dos pais, acima de tudo não existem os filhos. No mundo dos pais, todo mundo vai pra cama às 9 horas, sem discussão, toma o banho às 6 horas, depois ouve a missa no rádio e toma café Ás 6:40. No mundo dos pais, todo mundo vai trabalhar às seis da manha, seja pra ir vender fruta na feira, seja pra tocar o negócio na sua loja de computadores. No mundo dos pais, sexo drogas e rock ’n roll, já é coisa do passado, e não há futuro que vá mudar isso. No mundo dos pais, sexo virou costume sem prazer: necessidade animalesca de procriar; o que não faz sentido algum, porque mesmo assim estes continuam comprando 10 pacotes de camisinha por mês. No mundo dos pais, a paixão era coisa da adolescência, e não há passado nenhum que vá mudar isso. No mundo dos pais, adolescência é sujeito oculto e indeterminado, esquecido nos cantos pelos traumas que a vida adulta os trouxeram. No mundo dos pais, ser criança é melhor que ser Deus: “Quem me dera voltar aos tempos em que eu fazia carrinho de rolimã e descia ladeira abaixo montado nele!”, “Quem me dera poder voltar ao tempo em que eu brincava com a minha boneca de pano, e assistia o circo de pica-pau amarelo!”, “Quem me dera eu voltar a ser filho dos meus pais!” (...)
- Mundo dos filhos:
No mundo dos filhos, acima de tudo, não existem os pais. No mundo dos filhos, cada um vai dormir a hora que quer, cada um toma banho a hora que quer, ouve a missa se quiser, toma café se quiser. No mundo dos filhos, ninguém trabalha: seja pra ir pra a festa e tomar todas, seja pra ficar em casa jogando vídeo-game. No mundo dos filhos, Comer, Rezar e Amar não passa de uma historinha de terror que uns contam pros outros na hora de dormir, pra botar medo de que alguém vai aparecer e mudar o mundo que eles tanto amam. No mundo dos filhos, sexo é impulso: vontade por cima de vontade, que sua uma na outra e mostra a forma animalesca de transar só por prazer; o que também não faz sentido nenhum, pois continuam a não usar uma única camisinha sequer. No mundo dos filhos, paixão é coisa pra quem ainda não é careta, e não há futuro nenhum que vá mudar isso. No mundo dos filhos, ser careta é motivo de gozação, adjetivo sem locução verbal, tudo por causa da jaqueta que nunca vai desbotar, ou da brilhantina que nunca vai sair de moda. No mundo dos filhos, ter 20 anos é melhor do que ser Deus: “Quando eu tiver 20 anos vou poder beber por aí sem poder ser preso”, “Quando eu tiver 20 anos vou poder entrar naquela boate que não deixam entrar quem é de menor”, “Quando eu tiver 20 anos meu pai vai me comprar um carro zerinho!” (...)
- A Ponte Entre os Dois Mundos:
(...)
- Pai?
- Filho?
- Graças a Deus pai! Eu tive um sonho horrivel!
- Jesus! Eu também filho! Pelo amor de Deus, me dê um abraço!
(...)
- Pai?
- O que foi, filho?
- Eu te amo, sabia?
(...)
- Eu também te amo, filho. Boa noite, durma com os anjos.
O que eu queria falar com esse espetáculo:
- Com esse espetáculo, tudo o que eu queria dizer é que tudo é uma coisa só. Obrigado, e boa noite.


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