"Porque acontece que mais uma vez, afinal de contas é ele. Que sempre me desafia com a luz intensa e me queima, porque eu ainda sou uma criança. É o verão, que me abafa com o calor e me faz perceber mais umas vez que eu estou vivo. Que traz as boas lembranças que me motivam a continuar e, ao mesmo tempo me machucam com a saudade que deixaram. Mas que sempre me faz perceber algo de bom ou de ruim, que faça eu me encontrar ou que me faça entender que ainda é preciso eu me perder um pouco mais."
"Porque desde o último verão que eu cometi o meu último ato de bravura, que eu tenho tentado me guiar através dele desde então. Que eu passei o resto do ano e o ano seguinte tentando continuar a negar a mim mesmo como eu percebi que tinha que fazer. Desafiar o destino, nadar contra a maré. Encarar de frente e tentar não mostrar medo que sentia. Mas eu percebi que o meu último ato de bravura foi, de fato o meu último ato de bravura, e que o resto do tempo todo eu passei fugindo daquilo que mais me apavorava e me fazia trintar os dentes: o medo. Só para então esperar passar mais um ano e perceber que a coragem que eu tinha que ter era justamente pra me render à ele. Para perceber que na verdade o tempo que eu passei correndo na verdade foi fugindo, esse tempo todo, por uma avenida cujo nome eu prefiro nem mencionar."
"Porque de um jeito ou de outro acontece que é assim. E eu preciso que os raios fortes de luz me batam na minha cama todo dia pra me lembrar disso. Me lembrar que mais uma vez o sol está me chamando, e que dessa vez o desafio agora é outro, bem mais difícil e que requer muito mais coragem. Porque agora o desafio não é mais negar a mim mesmo. Não é só jogar toda a fantasia, hipocrisia e sonhos no lixo e aprender a viver sem eles. Agora o desafio não é encarar o medo de ser quem eu não era. Não. Agora o desafio é outro, e que Deus me proteja do que vem a seguir. Porque agora o desafio é ser feliz. Agora o desafio é deixar isso que eu já sei e já entendi pra trás e mergulhar no desconhecido. Sair desse mundo de letras e quebra-cabeças sem fim e encarar o quebra-cabeças real que está aí fora. Porque eu já passei tempo demais neste aqui, e a vida não volta. Não te espera. Não demora. E porque eu já estou cansado, e com fome, e com saudade de casa. E isso é tudo o que eu quero agora. É estar de volta para as estrelas, e deixar todo esse mar pra trás. Porque eu posso ser um marinheiro, mas a minha casa é em terra firme. E lá tem uma lareira e um cantinho quentinho onde se possa contar histórias, e onde eu possa contar histórias de todos os sete mares pelos quais eu passei, e que talvez eu ainda volte a passar. Porque eu sei que nada é definitivo, e sempre pode ser nescessário partir de novo. Mas sempre será nescessário voltar também. Para lá. Para onde eu enrolei tanto e até agora não disse. É estar de volta em casa. É estar de volta no meu lar."
Por Lucas Gesteira
18/12/2012