sábado, 30 de abril de 2011

Plutão

A gente não pode ficar pra trás. Quando tudo muda, quando qualquer coisa acaba, a gente tem mais mesmo é que mudar também, acabar também, cantar também. Quando o sol vira lua, e plutão aparece no céu, quando os signos caem, as cortinas se fecham e a cor muda. Tem coisa que não tem como se ensinar. É ser jogado na selva e aprender a caçar por si só, ou então ser caçado feito animal selvagem. Não importa os que os ambientalistas digam: tem horas que é matar ou morrer. E quando se canta pra a própria morte, é natural que ela ainda demore um pouco pra chegar, pro amor se anunciar, pra se dar um ultimo beijo enrugado e dizer "eu vou na frente meu bem, lhe encontro no outro lado". Quando a minha avó morreu, me falaram que os olhos dela diziam a mesma coisa. "Chegou a minha hora. Eu amo vocês minhas filhas, lhe amo Luiz, amo vocês meus netinhos e a minha irmã também, eu me vou agora, até logo e adeus."
As vezes nem tudo acontece como a gente pensa. As vezes tudo muda antes que a gente se dê conta, e nem sempre é pra pior. As  vezes, lá do alto Plutão nos surpreende e nos admira, bonito como ele é, fascinante como a vida é. Quem é experiente sabe que adeus é só um disfarce bonito pra um até logo, mesmo que o logo não seja daqui a pouco. E quando se torna experiente, meus amigos, se descobre se há muito mais à se experimentar do que o que a gente vai saber até o até logo.
"Até, Plutão, te vejo no Sol". - daqui a pouco.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Águas de Março

Eu me sinto bem. Sinto como se as águas que começaram em março tivessem me lavado a alma e me limpado de dentro pra fora, de um jeito que ninguém mais saberia fazer. Sinto como se a promessa que agora jaz em meu coração não pudesse ter mais vida, e como se a morte estivesse tão longe quanto os tempos em que eu deixei de beijar, uma última vez a sua face. A água, que me amedrontou durante todos esses anos, nunca pareceu tão tentadora, e ao mesmo tempo, tão intoxicante.

Eu ouço as notas que lentamente saem do meu piano, e rápido brinco com as cordas que me saem o braço. Aos meus olhos de água e sal, este dia verde é primeiro do resto de nossas vidas, e ao final das contas, um banho de chuva nunca fez tão bem a ninguém.

É meio patético, na verdade. Há dias que eu espero por uma chuva, um chuvisco que fosse pra poder escrever tanto, mas agora que veio, nem sei mais o que escrever. Vejam só! Sentado numa cafeteria, com um casaco de flanela e pinta de intelectual, e só o que consigo dizer é que é bonito.

É bonito. Muito mais do que tudo que nos dias negros que passaram eu poderia me permitir imaginar. É bonito, e é muito mais, é lindo. E muito mais, é meu. Na cadência do que um dia já foi samba, na guitarra do que queria ser rock, no clipe sem nexo e no terror retrocesso, entre cordas e teclas finalmente saem a música que eu deixei pra compor amanhã, e tudo o que eu consigo dizer é que é bonita.

Tem uma caixa que eu tinha guardada há muito tempo, e que eu nunca mais vou abrir. A vida, espera por mim, e eu nem sei em que esquina ela vai me beijar. Porque no lírio que eu comprei, e no copo de chocolate quente que eu não terminei de beber, me encontrou, vestida de cetim, e no beijo, provar o gosto estranho que eu quero e só desejo, eu te amo, vida. Te amo tanto, e nem desconfias. Te adoro tanto e nem percebe o jogo que me faz, e a morte que te trouxe, e o amor que lhe tenho. Bonita.

Na voz e nos teus cabelos, nas unhas e no seu queixo, na roupa de cetim que de gozada se faz usar e nos olhos que ainda nem sei a cor de cór, e que me matam feito basilisco, que vê a presa e a encara de frente, só pelo tempo suficiente para que a mesma se apaixone, e morra contente, no leito do teu olhar, e tudo o que consigue dizer à beira da morte (ou da vida) é: é bonita.

São as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no teu coração.