quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ozônio e água da chuva.

"E então ele acordou. Olhou o espaço ao dele e observou cuidadosamente o cenário. Sentiu o ar ao seu redor,  e colocou um CD para tocar no rádio. Ouviu durante algum tempo, depois se levantou e foi trocar de roupa. Lavou o rosto, escovou os dentes. Então voltou para o seu quarto cometeu o assassinato silenciosamente. Viu o sangue escorrer e pendurar-se na navalha até pingar, como pingava a goteira no teto naquele dia chuvoso de pré-inverno. Sempre gostara de dias como aquele. Especialmente do cheiro que o ozônio espalhava pela atmosfera quando as gotas da chuva entravam em contato com a terra no chão."
"Sentiu mais um pouco o morno que o sangue deixava nos seus braços. Sentiu o vento. Observou o cômodo mais uma vez, e olhou de relance para o cadáver no chão. O quarto permanecia calmo, assim como na hora em que acordara, inerte ao que havia acabado de acontecer. Ouviu novamente a goteira no teto, e sentiu mais uma vez o cheiro agradável que o ozônio proporcionava à atmosfera. Inspirou demoradamente, prendeu o ar durante alguns segundos, e então soltou, com um suspiro longo e arrebatador, roubando todos os gases da atmosfera para si por entre seus poros."
"E então de súbito ele se levantou. Guardou o cadáver no armário e saiu pela porta do quarto para se sentar na sala com seus outros familiares, enquanto lia o jornal e esperava pelo almoço: já havia tomado o seu café da manhã."