sábado, 7 de abril de 2012

Um Copo de Chocolate-Quente Que Nunca Existiu.

Não sei porque demorei tanto tempo pra postar esse texto aqui. Enfim:

''É estranho estar de volta aqui, e é ainda mais estranho pensar que nada aqui nunca existiu. Ou melhor, poderia nunca ter existido: O copo de chocolate quente-europeu com chantili por cima e cauda de chocolate, as mesas de madeira que eu costumava me sentar, a fileira de CD's que por tanto tempo eu vasculhei todo o domingo, esperando por ela. Ela, que acima de todas as outras coisas aqui, realmente nunca existiu. Mas como? Como se eu tinha um encontro marcado, e só não sabia a hora, e só não sabia o dia, e só não sabia com quem? Como, se no papel rascunho era definitivo, a caneta sem destino e os meus braços teus? Teus. Mais uma vez."
"Só que dessa vez eu não voltei aqui porque era tarde de domingo e eu não tinha nada melhor pra fazer. Não voltei aqui pra esperar por alguém que nunca existiu, pra comprar um CD dos Ramones que eu nunca escutei, nem pra tomar mais uma vez um copo do melhor chocolate-quente de Salvador. Não. Dessa vez estou mais lúcido. Mais sóbrio, mesmo bêbado Mais corajoso, e incontavelmente mais forte. Pronto pra mudar, mesmo que isso signifique nunca mais vir aqui. Mesmo que isso signifique nunca mais ver o Alex, que há muito deve ter largado o emprego de garçom pra seguir seus sonhos. Mesmo que isso signifique nunca mais ler livros de crianças usando casaco de flanela, calça social e pinta de intelectual. Mesmo que isso signifique nunca mais tomar o chocolate-quente europeu com chantili e calda de chocolate por cima. Mesmo que isso signifique admitir que ela, de all-star e camisa de uma banda qualquer que eu goste, com cabelos pretos em contraste com os vermelhos, de pele branca e com o rosto limpo nunca existiu, e nem nunca existirá."
"O verão lá fora está rilhando que só. 'The sun will be shining and the children will burn'. Não há espaço para continuar a ser criança. Esta na hora de mais uma vez tudo mudar diante dos meus olhos, e dessa vez eu prometo acompanhar sem resistir. De deixar pra trás uma cafeteria, uma livraria, um chocolate-quente e uma menina que só. De deixar pra trás mais um pouco de mim, e seguir em frente, sem olhar pra trás."


"Eu prefiro ser, essa metamorfose ambulante,
do que ter aquela velha opinião  formada sobre tudo"
- Raul Seixas